quinta-feira, 3 de junho de 2010

ECOS DA TECNOLOGIA

Estes dias enquanto caminhava pelas ruas quentes, abafadas, sujas e apinhadas de gentes, percebi como a vida as vezes parece ser tal qual um monólogo diante do espelho.

Muitas foram as avistadas almas a tagarelarem de si, para si, consigo mesmas, entrementes ao seu proprio caminhar. Ruidosa sinfonia de vozes a proferirem alguns grandes, longos e elaborados discursos, outros apenas simples afirmativas ou negativas, todos sempre carregados de forte expressão facial e corporal no interessante e único balé de braços, mãos, ombros e cabeça co-participantes desta verborrágica fluência.

Talvez este hábito - o de ´falar sozinho` - tenha raízes, motivo e causas mais profundas do que possamos supor. Tal fenômeno já tão comum neste século tem se agravado graças aos avanços tecnológicos que nos colocam cada dia mais diante de uma tela de computador onde as relações socias, antes reais e pessoais são substituídas por bits, bytes e cliques impessoais em um espaço virtual realmente inexistente e sob um www qualquer.

Nestes espaços eu não falo, digito; não ouço, leio; é uma máquina quem me atende, estou diante de uma máquina, falo a linguagem da máquina, me sinto uma máquina, sou tratado como uma máquina e assim, sem que eu perceba, vou sendo, aos poucos, treinado e preparado para uma vida o mais autônome e virtual possível.

A tecnologia que me auxilia e prepara para este mundo de múltiplas realidades e experiências ora reais, ora virtuais é a mesma que me isola, aprisiona e me faz refém dos ecos de minha própria voz muda diante de platéias surdas em uma esquina qualquer nestes dois mundos ora distintos, ora assemelhados.