quinta-feira, 26 de março de 2009

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI... MAS NÃO DE FLORES

Algumas vezes as situações que a vida propicia fazem com que nos tornemos mais atentos a determinadas situações e acontecimento que, talvez de outra forma, passassem por nós de maneira despercebida.

Estes últimos dias, por conta de uma situação familiar bem especial, eu estou um poupo mais sensível e perceptível ao que está ao meu redor, principalmente àquilo que me é dito. Não nego que as palavras exercem sobre mim um fascínio e um encantamento únicos.

Dado o momento pessoal percebi e constatei, para meu espanto e surpresa, que algumas das frases que me foram dirigidas ultimamente não passaram de um amontoado de palavras vazias, ocas, desprovidas do real sentimento que elas deveriam expressar. Promessas, juras, votos, aspirações, desejos e anseios sem eles mesmos.

Mas o exercício do dizer é assim mesmo. Dito e remetido de uma forma, entendido e recebido de outra.

Desculpe meu desabafo, mas é que a constatação do vazio no dizer de alguns incomodou-me imensamente e tenho no escrever, no dizer no papel, no dizer numa tela de computador a oportunidade de um cateterismo nas veias entupidas de minha alma.

Felizes os que dizem com propriedade.
Bem-aventurados os que recebem palavras com conteúdo.

quinta-feira, 19 de março de 2009

A ARTE DE FAZER ARTE

O que temos feito com nossas mãos?

Esta talvez seja a principal pergunta para que você e eu comecemos a melhor entender que na minha, na sua, em nossas mãos encerram-se infindáveis oportunidades do fazer a despeito de qualquer classe social, posição ou viabilidade econômica ou ainda técnica.

Existe uma infinidade de tipos de mãos: grandes, pequenas, finas, grossas, lisas, enrugadas, limpas, sujas, bonitas, feias, brancas, pretas, pardas, abertas, fechadas, estendidas, recolhidas; mãos que matam, que dão vida, que auxiliam, que atrapalham, mãos paradas, movimentadas e até mãos que falam quando a boca não pode expressar os anseios da alma.

Um grupo especial de mãos são aquelas que conseguem transformar o comum em incomum, acrescentando o suave toque do artesanato ao dia-a-dia de outras mãos.

A aprazível arte da arte-de-fazer-arte não olha para o tipo de mão.

A arte-de-fazer-arte está na disposição e vontade da alma em perceber, notar, olhar e ver possibilidades onde muitas mãos talvez nada tenham visto e assim, quem sabe, pela transformação do cotidiano, pelo revolucionar positivamente o meio ambiente social, reciclando vidas, sejam as tuas mãos incentivo para que a minha mão possa fazer a diferença com a arte que me é peculiar.

Em comemoração ao Dia do Artesão.

quinta-feira, 12 de março de 2009

CRÔNICAS DO REINO III - A MOLÉSTIA

Este texto não tem a pretensão de ser um resumo jornalístico. Os nomes de alguns personagens foram alterados a fim de garantir e preservar suas identidades. Qualquer semelhança com fatos reais não terá sido mera coincidência.

Era uma vez – na verdade não aconteceu só uma vez, aconteceram várias e várias vezes e ainda hoje acontece também, mas como tenho que começar suave então fica como se fosse apenas uma vez – em um reino nem tão distante assim, onde o rei pouco mandava e quem deitava e rolava, quer dizer, ditava a ordem, ou melhor, a organização da desordem, eram os amigos do rei; havia uma festa, e das grandes.

Esta festa envolvia todo o reino e até de certa forma fazia com que os nobres, os quase-nobres, os plebeus, os pobres, os miseráveis e os outros se misturassem e celebrassem nem eles mesmos sabiam o quê, mas havia celebração em todo o reino e o rei gostava.

Nesta época, porém, uma grave moléstia abateu-se sobre algumas regiões do reino, infectando um número considerável de pessoas, a maioria delas da plebe para baixo na íngreme escada-escala social. Estes pobres cidadãos, literalmente falando, buscaram então auxílio na propagada maravilhosa, eficiente e moderna rede oficial de atendimento à saúde mantida, ou melhor, sucateada e desassistida pelo reino.

Os já abatidos e enfermos súditos tiveram ainda, não obstante o decrépito estado de saúde em função da moléstia inicial, combater e encontrar forças para sobreviver a uma segunda moléstia que foi a falta de profissionais habilitados e aptos ao atendimento, ao socorro médico em época de festança nacional, em época de feriado, em época greve, enfim, em qualquer época do ano, em qualquer época de uma vida inteira.

Moral da história: No reino nem tão distante assim, a principal e mais mortal moléstia é a do descaso e omissão.

terça-feira, 10 de março de 2009

CRÔNICAS DO REINO II - O CASTELO DE GRAYSKULL

Este texto não tem a pretensão de ser um resumo jornalístico. Os nomes de alguns personagens foram alterados a fim de garantir e preservar suas identidades. Qualquer semelhança com fatos reais não terá sido mera coincidência.

Era uma vez – na verdade não aconteceu só uma vez, aconteceram várias e várias vezes e ainda hoje acontece também, mas como tenho que começar suave então fica como se fosse apenas uma vez – em um reino nem tão distante assim, onde o rei pouco mandava e quem deitava e rolava, quer dizer, ditava a ordem, ou melhor, a organização da desordem, eram os amigos do rei e um destes amigos construiu uma cidadela.

Na imensidão territorial do reino, procurou um lugar tranqüilo e lá mesmo deu início a construção para seu usufruto, deleite - mas depois ele disse que era para o herdeiro - de um simples, singelo, quase imperceptível e básico castelo. Mas aconteceu que este amigo do rei passou por um problema sério de saúde, uma perda de memória gravíssima e esqueceu-se de informar ao rei sobre sua nova e humilde morada.

Na mesma região onde o castelo já erguido reinava imponente – sem ser perturbado por nada e nem por ninguém -, um súdito, subalterno, quase escravo do reino que vivia, ou melhor, tentava viver com a mínima remuneração paga pelo reino, resolveu construir um quartinho bem pequeno a fim de dar um pouco menos de desconforto aos seus familiares.

Como que por passe de mágica - e neste reino, só mesmo a magia para explicar muita coisa que por lá acontece – apareceu um agente coletor-impostor, amigo do rei, e do alto das obrigações e responsabilidades que o cargo, dado pelo rei, lhe conferia, embargou a obra, multou o pobre coitado cidadão, ameaçou-o com despejo e quase o colocou na cadeia.

Moral da história: No reino nem tão distante assim... ih! esqueci a moral - da história - , tudo bem, sou amigo do rei.

domingo, 8 de março de 2009

CRÔNICAS DO REINO I - A OVELHA

Este texto não tem a pretensão de ser um resumo jornalístico. Os nomes de alguns personagens foram alterados a fim de garantir e preservar suas identidades. Qualquer semelhança com fatos reais não terá sido mera coincidência.

Era uma vez – na verdade não aconteceu só uma vez, aconteceram várias e várias vezes e ainda hoje acontece também, mas como tenho que começar suave então fica como se fosse apenas uma vez – em um reino nem tão distante assim, onde o rei pouco mandava e quem deitava e rolava, quer dizer, ditava a ordem, ou melhor, a organização da desordem, eram os amigos do rei; aconteceu uma violência sem tamanho.

Uma pobre camponesa tinha apenas duas ovelhas de estimação e para com estas ovelhas ela era muito cuidadosa e caprichosa. Mas certa vez um homem mau atacou violentamente as duas ovelhas deixando uma delas seriamente ferida e machucada a tal ponto que a vida desta ovelha estava em risco. A polícia do reino descobriu o agressor, prendeu-o e na cadeia ele confessou seu crime.

Agora, a dona da ovelha, levou seu querido animalzinho para os médicos afim de que eles pudessem salvar a vida de seu bem mais precioso; mas a operação que poderia salvar a vida da ovelhinha não era aceita por representantes de um conselho moral importante e influente no reino.

Estabeleceu-se um impasse. De um lado uns apoiando a pobre camponesa na tentativa de salvar a vida de seu tesouro. Do outro lado pessoas solidárias aos membros do conselho moral que agora, diante do iminente procedimento médico, ameaçaram cancelar os vistos de acesso ao reino-melhor de todos aqueles que se envolvessem na operação médica, caso a ovelha fosse mesmo operada.

E foi! Cirurgia realizada. Ovelha salva, camponesa feliz e aliviada com a recuperação da saúde de seu querido animalzinho de estimação. Contudo esta mesma camponesa e toda a equipe médica tiveram seus vistos de acesso ao reino-melhor cancelados pelos membros do conselho moral.

O vil bandido que violentamente atacou as pobres e indefesas ovelhas quase causando a morte de uma delas, este não perdeu o visto.

Moral da história: No reino nem tão distante assim, a depender da decisão dos membros do conselho moral, é melhor não ir para o reino-melhor... lá só entra bandido.

segunda-feira, 2 de março de 2009

SOU

Já vai longe o tempo em que eu era eu mesmo. O tempo em que eu sou eu e pronto já é findo. Se assim não é, veja comigo o que eu agora sou, no que fui transformado.

Sou número, sou letra, sou número e letra junto, sou código de barra; sou usuário, sou login e senha e as vezes contra-senha; sou saldo em banco, cartão magnético, sou foto no crachá, sou pedaço de papel plastificado; sou dado, informação, sou bit em banco de dado; sou página na internet, sou perfil, sou email, sou vídeo no youtube; sou anônimo, pseudônimo, sou convidado, visitante, hacker invasor.

Hoje sou
Talvez eu mesmo.
Amanhã, que sabe?