quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

R E T R O S P E C T I V A

Repensar a vida
Encontrar explicação, ou quem sabe
Talvez não.
Recuperar na memória
Outravez rever a história
Sentir saudades por quem se foi,
Perdi.
Experimentar a alegria
Consolidar a fé
Tendenciosa certeza de uma
Inabalável beleza de que
Viver este ano foi bom e que o próximo ano será
Ainda melhor.


FELIZ ANO NOVO!!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

LUA MINGUANTE

Não vou chorar o ano findo.
Não vou sorrir na antevéspera.
Espero,
Aguardo
Até que o meu falar com a ponta do grafite
Encontre teus olhos e então me alegre
Só de pensar que esta inversa trova
Escrita no improviso
Tocou teu pensamento solto
Enquanto a lua, lá fora,
Sorri.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

NA ESQUINA

Listra branca.
Faixa preta.
Zebra do asfalto nesta selva de pedra e pó.

Tronco de metal sem vida e cinza,
Sem galho, sem folha, cuja raiz é morta.
Tu és placa e torta.

Corpos de metal
Presos ao seringal.
Dragões a explosão.
Barrigas nunca vazias.
Fauna de estranhas formas
Carcaças doentes.
Disformes.

Varetas
Troncos e paus.
Estacas paralisadas
Farrapos ataviados.

Vidas guiadas por cores ao avanço do primeiro sinal.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

SEDE DE VINGANÇA, CEGA

O que tem em comum: Londres, Berlin, Bagdá e eu?

Não sabe?! Explico: as cidades e eu fomos alvo de intenso bombardeiro. As primeiras em conseqüência de hostilidade e beligerância e eu, eu fui alvo errado de um ataque descompassado e míope de um alguém, pessoa cega, com sede de vingança.

O ataque motivado por palavras escritas encontrou em uma leitura limitada e interpretação equivocada e preconceituosa o combustível ideal para a explosão que, sem aviso prévio, caiu sobre mim.

Fiz a tentativa de armistício e foi então que o dizer vulgar, reles, de baixo calão, chulo, leviano e frívolo foi disparado como uma metralhadora. Triste constatação da notória e visível frustração e decepção pelo desperdício de energia vital empregado em um ataque cego desde a sua concepção. Parece haver no mundo e na sociedade pessoas de alma, espírito e comportamento beligerante.

Quem me atacava, ao perceber sua própria cegueira, por conta de sua sede revanchista, só restou capitular e pedir desculpas pelo que disse, escreveu, fez, pensou.

Cega é a vingança que também cega.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

TERCEIRA PESSOA

Ele.
Ela.
Você.

Pronome definido.
Indefinidamente usado para qualquer um.
Pouco importa o sujeito
Sujeito que tanto faz.
Desde que sempre em terceira,
O que mais quero é paz!

Se não gosto, é dele.
Mas se gosto, é de mim.

Se não foi feito, foi ele.
Se foi bem feito... enfim.

Terceira é todo mundo,
Terceira é mais que um.
Terceira é tanta gente....

terça-feira, 3 de novembro de 2009

MORENA, MARAVILHOSA

Era ainda noite.
E você dormia.
O clarão da lua sobre teu corpo nu.
Morena, sobre lençóis de cetim
Tu repousas, descansa.

Detenho-me admirando tua forma, curvas, tua bronzeada tez.
Não resito e me aproximo de ti.
Tremo.
Tu és linda por essência,
Maravilhosa, em canção.

Os dedos de minhas mãos encontram teus cabelos.
Te afago suave.
Teu cheiro.
Desejo.
Beijo tua fronte.

Você acorda,
Me olha,
Sorri.

Sussurro ao teu ouvido:
Sou eu, querida. Voltei.

domingo, 18 de outubro de 2009

VIDA DE POETA

Esta é uma obra em co-autoria com minha irmã, Cinthia

O poeta fala de tudo
De tudo fala o poeta.

Fala de amores,
Dores,
Cores,
Sabores,
Flores,
Odores...

...

peidei!

sábado, 17 de outubro de 2009

ANÁLISE SINTÁTICA

Dramática é a gramática que assassina a concordância e faz com que a vírgula, movendo-se não por compaixão talvez por distração, venha a ocupar errôneo lugar na frase agora escrita.

Oculto é o sujeito. Predicado de conjugação de verbo mais-que-perfeito não flexionado, sempre no infinitivo. Na teimosia de estar fazendo, sempre no gerúndio, o que não convêm.

Intrincado é o intrínseco significado da palavra. Verborrágica expressão do dizer na imperfeita simetria desta métrica claudicante.

Rabiscada está a figura de linguagem na retórica singular desta minha existência plural.

Deste meu eu poeta, sou paráfrase, metonímia, pleonasmo.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

HEIN?

Para que?
O que!
De que...

Se que,
Do que,
Sem que!

Por quê?

à toa!

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

INTERNA A MENTE

Já tentou fazer qualquer atividade que exija um pouco mais de concentração quando se está com um único desejo, sono?

Enquanto rascunho estas linhas meu cérebro parece divergir e dividir-se quase que literalmente entre dois pensamentos: pensar estas linhas e esticar meu corpo em linha. Tenho sono. Muito sono. Estou de noites mal dormidas já faz 2 dias.

A luta é feroz. Manter os olhos abertos agora parece demasiadamente difícil, tanto quanto segurar a caneta diante da sensação de uma mão leve, de um braço solto, de um ombro curvado, de um corpo relaxado.

Estou em um quarto de hospital na função que, de uns tempos para cá, parece que tem sido minha sina: acompanhar gente doente.

Lá fora o silêncio só é interrompido pelos passos da enfermeira em sua rotina de visitação, aferição, substituição e ministração; aos enfermos, dos sinais vitais, dos frascos de soro e da medicação, respectivamente.

Cá dentro, em mim, de mim, o barulho surdo das palavras e idéias é constante. Tragicômica dicotomia neste ambiente escuro sob a penumbra de um único facho de luz vindo do corredor pela porta entreaberta do quarto.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

DEDINHO DE PROSA...

O conviver em um mundo cada vez mais tecnológico e virtual fez mudar profundamente a qualidade das interações entre os seres humanos.

Uma das mais drásticas alterações, muitas das vezes imperceptível, é a que diz respeito ao bom hábito de conversar, bater papo, prosear, jogar conversa fora.

Com o crescente avanço das ciências e artes tecnológicas tivemos nosso dia-a-dia invadido e recheado de pequenas ou grandes parafernálias ou trocinhos e estes cada vez mais interativos.

O que antes era inanimado, estático ganhou “vida” quer dizer, bytes, memória, processador, circuitos e agora pode reconhecer formas, se locomover, ouvir e pasmem... até falar.

Estes dias me percebi tendo uma “prosinha” com o meu computador enquanto ele, lentamente, tentava realizar uma série de processamentos. Foi então que me dei conta – eu comigo mesmo – de que ando falando com máquinas. Eu não sou maluco!

Falo com o celular invariavelmente graças à operadora a conversa tem sido sempre a mesma: “sem sinal outra vez... sacanagem, hein!”
Falo com a televisão quando na troca de um canal para o outro o volume aumenta demais: “não precisa gritar, fale baixinho.”
Falo com o chuveiro em dias frios: “vamos lááááá, esquenta essa água.”
Falo com a geladeira: “vamos ver o que temos hoje para comer?”
Falo com o microondas quando ele apita: “já ouvi!”
Falo com o telefone quando ele toca: “estou indo.”
Falo com o caixa eletrônico: “libera o meu dinheiro, segura não!” ou então “como assim errei a senha, tá maluco?”
Falo com a minha bicicleta: “vamos dar uma voltinha hoje?”
Falo com a porta: “abre-te sésamo.” e parece incrível, mas depois de outros procedimentos ela, a porta, sempre se abre.... impressionante!!
Até com as plantas eu tenho falado: “vamos lá avenca, não morre não!”

Você deve pensar e quase ter certeza de que se ainda não sou estou no caminho certo e a passos largos para um quadro grave, profundo e talvez irreversível de algum quadro psicótico, certo?

Errado! Você não precisa conversar com toda sua casa mas não pode negar que pelo menos uma vez, senão várias vezes, fez dueto com o aparelho de som ou o rádio de casa ou do carro.

A vida não precisa ser um discursar no areópago e nem um monólogo unidirecional. Saber transigir é fundamental, interagir também. Eu não dispenso um dedinho de prosa. Vamos prosear?

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

CRÔNICAS DO REINO IV - Mentiras Palacianas

Outra vez o governo dos trabalhadores se vende para manter a dita sustentabilidade da governabilidade e assim perpetua os ganhos da bandidagem, da quadrilha que, sob as mais diferentes cores e figuras, achou seu lugar no planalto central brasileiro.

Por muito menos do que hoje se vê nos altos-baixos círculos políticos, foi Joaquim José da Silva Xavier acusado, julgado, sentenciado e condenado como traidor do reino tendo que enfrentar a execração pública à medida que caminhava da Cadeia Velha até ao Largo da Lampadosa para ali ser enforcado, morto e esquartejado.

Por muito menos do que hoje se lê, uma geração saiu às ruas com suas caras pintadas nas cores nacionais pedindo, clamando, exigindo mais moralidade, mais ética, mais respeito na política e no fazer política.

Por muito menos sai eu junto com outros caras-pintadas, dizendo a plenos pulmões: “Rosane, sua galinha, foi o PC quem comprou suas calcinhas!”, como forma de declarar minha indignação diante do então escândalo envolvendo a figura do então presidente Collor e seu amigo-tesoureiro, o finado PC Farias.

Contudo, os avanços da imoralidade na Câmara, no Senado, nos palácios, nos atos secretos firmados e confirmador atrás de portas fechadas, fazem crescer e multiplicar a indignação de toda uma nação contra as manobras com que o Palácio do Planalto - na figura daquele que deveria ser o justo e fiel governante do povo – e seus asseclas têm tentado evitar, esconder, encobrir, abafar e distorcer a visível podridão das relações escusas, ilícitas, ilegais, impróprias e imorais de seu governo.

Enquanto a população sofre à míngua a influência de uma recente Influenza, o senhor Presidente, chefe do Estado Maior, faz acordos para salvar seus amigos, políticos-bandidos de toda e qualquer tentativa de tornar sua gestão um exemplo de moralidade.

Sua Ministra mente descaradamente dizendo que não falou o que disse, que não esteve com quem esteve; o Presidente do Senado mente dizendo que não fez o que fez, que não assinou o que tem sua rubrica, que não viu o que leu.

Talvez a única verdade neste mar de mentiras, de dissimulações e de falsidades seja a retórica oca e vazia da declaração dos senadores, deputados e políticos ao afirmarem que não se sentem “confortáveis” em acusar um colega seu.

Realmente a mentira deixa a pessoa desconfortável quando a verdade se pode ver.

Os conchavos, as articulações, a tramóia, a infidelidade partidária, a falta de ética, a inexistência de moral, de vergonha, a dissimulação, enfim, tudo em Brasília me enche de perplexidade, revolta, indignação, asco e nojo.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

CENTIMETROSSEXUAL - Comportamentos de um homem moderno

Já vai longe e distante o tempo em que as únicas preocupações do universo masculino eram a perpetuidade de sua espécie e o valor da remuneração para o sortimento próprio e também de sua família.

O mundo avança, prossegue, evolui, se desenvolve e tudo o que nele há parece, algumas das vezes, junto com ele, também avançar, prosseguir, evoluir e se desenvolver.

O final do século passado e o início deste fez surgir novos valores, posturas e comportamentos nas pessoas e talvez o mais afetado por estes novos paradigmas sociais tenha sido o homem e o seu universo Macho-Masculino-Viril. Sem medo do que podem pensar as outras pessoas, este novo homem agora demonstra emoções, chora, abraça, beija, é afetuoso; cuida do seu corpo, é vaidoso, faz academia, musculação, depilação, bronzeamento artificial, freqüenta salões de estética com a mesma regularidade com que freqüenta a quadra de futebol da vila; tem estilo, usa roupa da moda, acessórios modernos, segue tendência, cria tendências.

Mas, contudo, entretanto, todavia este novo homem que ficou conhecido como metrossexual também evoluiu muito rapidamente para um tipo bem peculiar o centimetrossexual. Um homem com todas as características do metrossexual – ou não – mas que é bem mais competitivo com seus companheiros de gênero. Eis algumas situações onde o homem centimetrossexual se revela. Leia com atenção e descubra se você é um centimetrossexual ou se você conhece alguém que seja.

Situação 1 – Visita ao sex-shop

O centimetrossexual, via de regra, jamais entra em uma loja de artigos eróticos por temer, como o diabo foge da cruz, ser confrontado com um “bimbo-lover”, uma “trosoba”, uma “guaça”, um “peru” de plástico maior do que o dele.

Para o centimetrossexual a pura e simples imagem visual de algo mais comprido ou mais grosso ou mais colorido ou com mais funções acessórias do que ele tem ou pode oferecer “in natura” – ainda que não faça uso de seu instrumento – faz gelar o corpo todo e corar a face.

O pior adversário para este novo tipo de homem é ele mesmo. Como uma evolução natural do comportamento do já antigo, antiquado, obsoleto e arcaico metrossexual, o centimetrossexual apresenta características bem semelhantes ao seu protótipo anterior, contudo não conseguiu ainda resolver e elaborar as questões ligadas a fixação fálica, seus complexos e síndromes correlatas.

Situação 2 – No banheiro

O homem sempre quis saber o que as mulheres fazem “em grupo” no sanitário. Qual seria o motivo atrás do motivo de irem, invariavelmente não sozinhas, ao banheiro? Pois bem, isso você terá que perguntar para uma delas. Se você que agora lê este texto é uma destas que vai em “excursão” ao sanitário... não conte! Mantenha o suspense, os homens gostam de um certo mistério. Mas enfim, não estou aqui pra falar do banheiro feminino e sim do banheiro masculino e tenho que explicar o segundo comportamento típico do centimetrossexual, este novo homem, o homem do século XXI.

O processo se desenrola assim. A bexiga está cheia, o cara já começa a demonstrar um frenético cruzar-e-descruzar de pernas. Segura o quanto pode, mas chega um dado momento em que já não pode mais então é procurar o primeiro banheiro disponível para alívio do popular “número 1”. Aí começa o alívio físico e a tortura psicológica.

O centimetrossexual se posta em pé diante do mictório e enquanto relaxa e deixa a natureza agir, percebe outro cidadão em igual situação. Uma rápida olhada de canto de olho. As pupilas se movem rapidamente para a esquerda e para a direita e levam ao cérebro um amontoado de informações. Agora a atenção não é mais no xixi, o foco passa a ser o cara ao lado. Eis o dilema: olhar ou não olhar? A pergunta vai se repetindo a cada nova sinapse cerebral a uma velocidade assombrosa e nem bem esta primeira pergunta foi respondida pelo cérebro e outras já surgem pipocando e estralando dentro da cabeça do centimetrossexual que agora confuso de tantas questões tem que lidar com o principal questionamento: Mas será que o tamanho do meu é normal? O dele é maior ou menor? Se o dele é maior. Que cara de sorte. Se o meu é maior... hehehe... eu sempre soube!!

Tudo acontece muito rápido. O xixi já acabou. A última gota já caiu sobre o sapato. Aquela chacoalhada básica já aconteceu e então, atormentado pela dúvida, o centimetrossexual olha na direção do outro do outro ao lado. Seu cérebro então exclama: Céus, cara! O que você fez? Você olhou para o “peru” de um outro cara!! Ninguém pode saber disso. O que vão pensar de você?

O pobre coitado recolhe o seu apressadamente e tão rápido como entrou, sai do banheiro. Com sorte consegue se lembrar de lavar as mãos antes de sair.

E se estas situações não fossem bastantes e suficientes, este novo homem, o centimetrossexual, tem que conviver com a peja da indelével lembrança do calendário que aponta para o século XXI na famigerada sina de por para baixo quem vive a desdita sorte de ter menos do que o presente século.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

VÍRUS, NO PLURAL

O povo brasileiro parece não mais desfrutar do que em outras épocas e também até pelo menos bem pouco tempo atrás era cantado em verso e prosa, a saber, o fato de sermos uma nação “deitada eternamente em berço esplêndido”.

Parece que acordamos nas tais margens plácidas aonde estávamos outrora para constatar que estamos cercados de por mais uma manifestação enfermiça de um novo tipo de vírus. E nós que nem bem demos conta da pólio, do sarampo, da rubéola e da dengue agora temos que enfrentar um que antes era suíno agora é A.

O tal bichinho microscópico parece ter gostado não somente do clima e calor humano típicos destas terras brasileiras, mas mais ainda da omissão e descaso com que as autoridades até bem pouco tempo atrás tratavam o assunto.

A confortável crença de que somos um país “abençoado por Deus” fez com que alguns tivessem a falsa impressão e sensação de que estamos imunes à manifestação em nosso território da presença do H1N1. Ele, o vírus, fez e tem feito direitinho sua tarefa de se disseminar onde os poderes responsáveis foram omissos ou, na melhor das hipóteses, imprevidentes.

Pagamos o preço desta letargia sanitária: doentes e mortos pelo vírus fazem as estatísticas se modificarem a cada novo relatório e as justificativas e explicações apresentadas não consolam os familiares vitimados pelos vírus. Sim, pelos, no plural. O vírus da gripe e os da omissão, imprevidência, e descaso; talvez estes mais letais que o primeiro.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

PENSANDO FRIAMENTE...

Meu último mês não foi nada fácil, nem tão ortodoxo, bastante heterodoxo. Quase que literalmente viraram a minha vida de ponta cabeça bagunçando as minhas coisas e mexendo com o que há de mais importante para mim: a família, a minha!

O falecimento de minha mãe ainda que racionalmente, até certo ponto, esperado me pôs em pé - literalmente - às 3h40 da manhã do dia 22.06.2009 e no decorrer daquele longo dia - e como foi longo - só conseguia fechar os olhos para deixar escorrer as lágrimas.

Em um misto de tristeza, desconsolo, amargura, pesar e saudade por minha mãe, mas também de contentamento pelas inúmeras mensagens e manifestações reais e virtuais que recebi e recebo dos amigos, eu chorei e como chorei. Eu ainda choro...

Nem bem tinha elaborado a saudade e a ausência e na véspera de mudar de residência tive a casa invadida, revirada, bagunçada e assaltada por sei lá eu quantos que levaram o que puderam e quiseram, deixando somente aquilo que, quer pela pressa ou ignorância, desconhecimento e burrice não puderam levar. A mudança foi antecipada e apressada.

Agora tenho que reorganizar a casa e as coisas nela contida, inclusive a minha vida.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

EU, FANTASMA!

Quieto! Calado!
Não fale palavra sequer.
Não ouse pensar.
O ruído de tuas idéias incomoda a minha paz.

Quieto! Parado!
Não saia do teu lugar.
Eu brinco contigo: Estátua!
Se mexa quando eu deixar.

Fecho os olhos
Desvio o meu olhar.
Não quero ver tua sombra-fantasma.

Assombro.
Arrepio.

Você está morto.
Calafrio!

segunda-feira, 20 de julho de 2009

O CLUBE

Depois de algum tempo na salutar prática de exercícios físicos regulares, excetuando-se o tempo em que fique afastado, sedentário e parado por motivo de força maior, tenho conseguido manter sob muito esforço, pesos e suor a minha nova constituição física. Ainda distante de ser o Mister Universo deste ano... mas quem sabe no ano que vem!

O ambiente acadêmico, isto é, da academia de musculação, é sempre singular em muitos aspectos, principalmente no que diz respeito às relações interpessoais ali firmadas, estabelecidas.

Para haver relacionamento interpessoal é preciso que existam pelo menos duas pessoas dispostas a se relacionarem. É preciso haver troca de informações, conhecimento, amabilidades, carinhos, companheirismo, cortesia, respeito, etc, etc, etc... a lista é longa mas vou parar por aqui. Pois bem, não há como haver relacionamento interpessoal de mim para comigo mesmo, entretanto se você consegue se tolerar isso já é muito bom; caso contrário, procure uma boa terapia e resolva-se!

Nas academias as relações entre os alunos são regidas ainda por outros fatores também igualmente importantes que vão além da vontade de trocar informações etc e tal já mencionados acima. Biótipo, diâmetro de bíceps, peitoral, glúteos e a silhueta “tanquinho” dos músculos abdominais também fazem parte destes fatores essenciais para se estabelecerem relações sociais.

Caso você neófito na rígida, suada e de quando em quando dolorida rotina de exercícios ainda não tenha atingido os índices considerados mínimos e aceitáveis para o bom convívio acadêmico, não desista. Com o tempo e o ganho ou diminuição de suas medidas você será aceito pelos demais sócios deste clube e estará interagindo com eles. Para te ajudar nesta tarefa de integração e interação, eis abaixo os grupos e tipos mais comuns... identifique-se e boa sorte!

- Os “sabirilas”, assim denominados por terem as pernas como as de um sabiá e o corpo, da cintura para cima, forte e grande como o de um gorila; também conhecidos como “peitos-de-pombo”. Ávidos por muito peso; são invariavelmente grandes na estrutura, energia e explosão – algumas das vezes explodem mesmo, são facilmente irritadiços. De pouca ou nenhuma interação com os outros pelo simples motivo de não exercitarem o cérebro com o mesmo afinco e determinação com que exercitam o corpo. Quando não se sentem atraídos pelas “pat’s” é sempre por outro “sabirila” que se apaixonam.

- Os “pernas de T-Rex”, entre os homens este é o tipo praticamente extinto. Possuem os membros inferiores bem desenvolvidos mas não proporcionais ao restante do corpo.

- As “neuróticas”. Tipo clássico entre as mulheres de corpo normal mas que se acham fora do peso que consideram ideal ainda que seja somente por um grama. Receitas de dietas e poções milagrosas podem ser conseguidas facilmente com elas.

- As “pat’s”. Outro tipo clássico entre as mulheres. Para elas a academia é evento social, é desfile, é glamour, é fashion, é tudo, é o mundo. É como se, na cabecinha delas, sem elas a academia não fosse academia. Costumam perder a linha e a noção a compostura e outras coisas mais quando avistam um “sabirila”.

- Os “por recomendação médica”: tipo também quase em extinção visto que com o tempo acabam por migrar para qualquer um dos outros tipos.

- Os “normais”: preocupados com o seu bem-estar, malham para sentirem-se bem. Costumam interagir bem com os outros grupos.

- Os “gordinhos”: homens ou mulheres relativamente acima do peso. Costumam ser mais calados e observadores, invariavelmente apresentam excelente senso de humor, são ótimas companhias. Um pouco de atenção e interrelação ajudam a mantê-los malhando.

E aí... vamos malhar??

Eu vou!!

F-U-I...

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O QUE NÃO MATA, ENGORDA

Comer fora de casa ou simplesmente comer fora há muito é um dos programas preferidos pela maioria das pessoas.

Quando há ocasião ou na ausência dela; quer a dois, três, quatro, com a galera toda ou até mesmo sozinho, sempre comer fora foi e é um bom programa.

Embalado e animado, tenho me aventurado em conhecer a gastronomia local nos mais variados ambientes que estes lados de cá propicia.

Em uma destas ocasiões, em companhia de um amigo e por convite do mesmo, fui, quer dizer, fomos conhecer uma badalada opção gastronômica. Um típico e tranqüilo e pacato e familiar restaurante que oferece deste o tradicional buffet à quilo até um elaborado cardápio – menu, para os mais exigentes – com inúmeras opções da culinária internacional.

Refinado e fino como sou - tendendo mais para o segundo em detrimento do primeiro – parti para as opções internacionais que podem ser agrupadas em duas cozinhas: árabe e italiana. Eu que não sou bobo nem nada escolhi a gastronomia da terra de Ali Babá. O pedido foi simples: esfirras de atum, esfirras de frango e esfirras de chocolate... algumas de cada.

Pausa. Esta diversidade, variedade e criatividade em recheios só encontradas no Brasil, por certo poriam qualquer Sheik de turbante em pé – fim da pausa.

O tempo entre o pedido e a entrega foi o que posso chamar de “padrão”. A cozinha internacional é sempre recheada de surpresas e aqui, desta vez, não foi diferente. O pedido veio errado.

O atum tomou conta da tenda e o frango bateu assas levando consigo o chocolate e a inteligência do garçom que, de tão confuso, precisou ser substituído depois de duas tentativas de acertar o pedido.

Comi, paguei e sinceramente não gostei mas, de teimoso, alguns dias depois eu voltei à mesma casa afim de, agora, provar da cozinha do país dos césares que, por aqui, se resume à boa e famosa pizza.

Pausa. A teimosia nunca acontece apenas uma vez, a teimosia não é solitária então, por isso, eu e meu amigos teimamos juntos e fomos experimentar na mesma casa, outrora árabe, agora, italiana. “Capiche”! – fim da pausa.

Devido ao trauma da primeira experiência eu enrolei um pouco para fazer o pedido. Tudo para não ser atendido pelo mesmo garçom confuso e trapalhão da vez passada.

O pedido foi “éco” basicão: pizza “mezzo-a-mezzo”, cada lado com um recheio e cobertura com queijos diferentes. Ma que! O “maledeto” do “pizzaiolo” não entendeu “niente” do pedido e fez tudo uma cobertura só: um catupiry (??) questionável.

Moral da história: Vim, Vi, Comi e fui para a concorrência.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

ESTOU

Não tenho vontade.
Largado,
Desfaleço.

Te peço um abraço.
Cansado.
Sossego.

No doce aconchego.
Teu colo.
Esqueço.

A vida que segue,
Prossegue.

Aceito!

domingo, 28 de junho de 2009

DOIS DIAS É POUCO

Faz menos de uma semana que enterrei minha mãe. Experiência única e horrível e nem bem tinha eu processado ou elaborado – como gostam de dizer os psicólogos – o luto por minha mãe, tive que retornar às atividades laborativas, rotineiras e funcionais na empresa em que trabalho.

A mente dispersa, o corpo cansado, os olhos pesados e a paciência curtíssima para repetir a história da doença que levou minha mãe ao descanso... eu já estava pra lá de cansado de tudo isso.

A lei concede, quase que como por esmola, para o funcionário que perde os ascendentes (pai e mãe), dois – míseros, modestos, parcos e poucos – dois dias de licença. É muito pouco! Minha irmã voltou ao trabalho passados os seus dois dias; eu ainda respirei um dia a mais e na quinta-feira estava de volta, pelo menos o corpo, à cadeira, atrás de minha mesa, na frente de um computador.

Sei que é preciso retomar a vida, seguir com os projetos e planos etc e tal; mas dois dias é pouco, muito pouco para chorar, para arrumar a casa, organizar e reorganizar a vida, para consolar e ser consolado.

Dois dias só não é pouco para sentir saudades...

segunda-feira, 22 de junho de 2009

MAS LIVRAI-NOS DO MAL - EPÍLOGO

Livre de toda a dor e sofrimento, a paciente descança de suas dores.

Tem fim o sofrer. Fica a saudade e a esperança de que em breve haveremos de nos encontrar, sem dor, sem câncer, sem sofrimento... só amor.

x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x FIM x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x

sexta-feira, 19 de junho de 2009

EU MATEI MICKEY MOUSE

Aconteceu por estes dias...

Estando eu confortavelmente instalado sobre o sofá assistindo a sei lá o que na televisão eis que de súbito, sem aviso prévio, um hediondo, medonho, asqueroso, repulsivo, infame e nojento roedor é percebido pela menina de meus olhos.

Num sobressalto, não sei ainda se de coragem, espanto, susto ou medo, rapidamente segui a criatura com os olhos afim de saber para onde iria o infame rato. Bingo! O bichinho fez a curva acima da velocidade permitida, saiu da sala e entrou na cozinha. Pronto!! Tudo o que eu mais queria aconteceu... um roedor peçonhento na cozinha. Eu mereço!

Como estamos aqui em casa com uma situação particular de doença na família e eu estava de malas prontas para São Paulo, cuidei em manter as portas dos quartos bem fechadas para que o intrépido visitante não trocasse o conforto e fartura da cozinha pelo aconchego de qualquer quarto e também mantive a porta da cozinha bem fechada para garantir a permanência do dito animalzinho em apenas um espaço e fui... para “Sampa”.

Quando retornei - não sou bobo nem nada -, voltei acompanhado de minha irmã, para dar uma boa organizada na casa antes do retorno de minha mãe e foi aí que a coisa pegou, na verdade não pegou, mas quase pegou.

Avisada da visita animal e conhecedora de todo o meu potencial corajoso para aniquilar o infeliz roedor, minha irmã em um ato de extrema bravura, bondade e amor fraterno (que lindo!!!) trancou-se na cozinha disposta a aniquilar o bichinho.

Tudo ia bem até que um grito ecoou pela casa indicando o avistamento do ser. Fiz o sinal da cruz umas quatrocentas vezes e devidamente imbuído de coragem e com a vassoura na mão tive que adentrar ao recinto da cozinha para ajudar a aniquilar o agora avistado roedor. Entre umas vassouradas e saltos e pulos e uma série de “Ali! Ali! Ali” ou então “Vai bate nele!” o agora veloz roedor safou-se debaixo do fogão e aí então, inteligência pouca é bobagem, não pensei duas vezes, acendi o forno e ficamos de olho – minha irmã e eu – para ver se o ratinho seria cozido. O tempo passa, o fogão esquenta e nada de cheiro de rato assado, nada de rato sair debaixo do fogão.

Penso que ficamos esperando o rato assar por uns trinta minutos e então desligamos o fogo, afinal: Quem poderia resistir tanto tempo assim dentro de um fogão quente e continuar vivo?

No dia seguinte, resolvemos dar uma geral dentro do fogão e para surpresa e espanto, nenhum sinal, sequer as cinzas do chamuscado roedor foram encontradas. Santo Mickey veloz! Ele havia escapado da sina de Joana D’Arc. Desencanamos do rato, concentramo-nos na limpeza e organização e o dia transcorreu normalmente até o inicio da noite quando ouvi sons estranhos vindo da cozinha.

Um amigo estava em casa, viera conversar um pouco e tínhamos planejado comer fora – para espairecer. Enquanto conversávamos amenidades ouço o barulho e vejo uma mancha escura dentro de um saco plástico onde estava armazenada a base de um filtro de água. Rapidamente em um convite que mais pareceu uma intimação, instei com meu amigo que me ajudasse a matar o rato e aí o bicho pegou.

Tão corajoso quanto eu, meu amigo, num ato recheado da mais pura bravura ficou com a parte logística da operação, ou seja, ele cuidava da vassoura e eu com a parte prática, ou seja, encarregado de aniquilar e destruir o rato. Santa falta de coragem! Mas lá fui eu na frente, é claro, e meu amigo no suporte logístico logo atrás. Eu segurei a franga e peguei bem firme no cabo da vassoura e mandei ver em uma infinidade de golpes sobre a pobre coitada base do filtro de água que não resistindo, fragmentou-se.

Moral da história: Na hora do aperto é como diz a letra da música, com uma pequena alteração minha: “Um homem pra chamar de seu, desde que não seja eu”.

E fim da história... e do rato também!

sexta-feira, 12 de junho de 2009

MAS LIVRAI-NOS DO MAL IX – RETICÊNCIAS...

Faço uma pausa na capitular narrativa, uma vírgula para respiração e enquanto respiro, recordo as inúmeras manifestações de apoio e carinho que havemos recebido nestes dias turbulentos que temos enfrentado juntamente com a paciente.

Em uma destas manifestações recheadas de empatia, carinho e sincera amizade, uma amiga escreveu que “os amigos são o meio pelo qual Deus gosta de cuidar de nós.” E então, sendo assim, todos os dias Deus fala comigo ao telefone, manda um email, mensagem no Orkut, envia carta, me dá um abraço e até interage neste blog.
Todas estas manifestações do mais puro e desinteressado amor para com a família da paciente e também para com a paciente tem nos ajudado a suportar e superar os momentos ruins, valorizando os bons instantes.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

MAS LIVRAI-NOS DO MAL VIII - DE VOLTA PRA CASA

Após duas semanas de internação para exames, dado o diagnóstico e as orientações médicas, a paciente decide voltar para sua casa, junto de sua família e assim é.

Ainda bastante debilitada fisicamente e ainda um pouco abalada emocionalmente, a paciente trava acirrada luta para ficar bem, o melhor possível, com a ajuda de familiares e amigos que afluem para vê-la; para expressar e demonstrar amor, carinho, afeto, amizade e cuidados para com ela. Isso é bom, conforta a alma, alivia o espírito e faz surgir novo ânimo.

“Agora, pois, permanecem a fé, a esperança, o amor, estes três; mas o maior destes é o amor.” I Coríntios 13:13

domingo, 31 de maio de 2009

MAS LIVRAI-NOS DO MAL VII – NOTÍCIA RUIM

Como é que se diz para uma criança que Papai Noel, Coelhinho da Páscoa, Bicho-Papão, a Fada do Dentinho e tantos outros personagens lúdicos não existem?

Como é que se pode dar uma notícia ruim para alguém?

No fim de semana retrasado a paciente, sentindo o voltar das dores, foi levada para uma outra cidade, um outro hospital, uma outra equipe médica afim de ser examinada. Internação solicitada e aí é a rotina hospitalar básica de diagnóstico: material para exame, laboratório, resultado, conversa com o médico e foi neste processo que “Papai Noel” começou a sumir.

Os exames preliminares, básicos e rotineiros apontaram uma alteração no nível de uma proteína do sangue e esta alteração é forte indicativo de uma doença mais séria. Outros exames, agora complementares e um pouco mais complexos, são solicitados afim de descartar ou confirmar a suspeita apontada pelos primeiros exames, os básicos.

Em um centro mais desenvolvido, tudo parece ser melhor, pelo menos do ponto de vista médico e este foi o caso no trato com a paciente. Os exames que anteriormente demoravam de 3 a 4 dias para ficarem prontos, agora são divulgados com laudos e tudo mais em no máximo 24 horas.

Exames e laudos complementares prontos e é confirmada a suspeita do médico. A paciente tem câncer. O grau de evolução da doença é adiantado e a metástase já se faz presente em outros órgãos. A paciente tem a glândula supra-renal esquerda, o pâncreas e o fígado já tomados pelo câncer. O prognóstico médico não é nada animador e o contar do tempo agora é regressivo diante de uma doença tão agressiva.

Como é mesmo que se dá uma notícia ruim pra alguém?

Não sei. Mas por certo a melhor forma é a que não omite, não mascara, não disfarça.

O que acontece agora? O que acontecerá daqui pra frente?

Não sei, não sabemos.

Há momentos que acreditar em alguma coisa superior é bom.
Há momentos que acreditar em alguma coisa superior é bom mas não o suficiente, então acreditamos no divino.
Mas há momentos que acreditar em alguma coisa superior e no divino não são suficientes, é nestes momentos que faz toda a diferença acreditar em DEUS.

Nós, da família, acreditamos em DEUS, em todo o tempo, em todos os momentos.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

CONCURSANDO: UMA VAGA DE PACIÊNCIA

No penúltimo fim de semana acordei um pouco mais cedo que o habitual para um domingo preguiçoso; tomei um banho para melhor despertar; fiz um bom desjejum, fiz a assepsia bucal, engalanei-me e fui em direção a uma das muitas escolas municipais afim de prestar as provas para o processo seletivo solicitado pela prefeitura e organizado por empresa contratada.

A parte da manhã transcorreu normal, comum; perguntas, alternativas, somente uma correta. Um candidato bêbado chegou atrasado pronunciando impropérios e frases desconexas, mas não passou do portão. Dentro de sala um ou outro candidato mais nervoso e de bexiga cheia pedia permissão para esvaziar o corpo e quem sabe liberar mais espaço para o pensamento.

Fim de prova, fim do tempo, fim da primeira parte da maratona de provas. Início do almoço que foi tranqüilo, em casa, chique, refinado com o que há de melhor e mais moderno da gastronomia internacional, especificamente da cozinha francesa – restô d’Ontè.

Após tão refinado almoço já era tempo de sair para aquela que seria a prova final, a prova prática de informática e então fim do concurso. Tudo deveria ser rápido afinal de contas a prova padrão consistia de apenas a digitação de um texto com menos de mil toques; mas sempre há um porém e o porém desta vez era a falta de organização da organizadora do certame e aí o bicho pegou, quer dizer, quase pegou.

No local e hora marcados deveria haver aproximadamente umas 500 pessoas esperando para fazerem a prova e algumas delas estavam no aguardo desde a parte da manhã. Apenas uma sala fora preparada para a prova da parte da tarde e na sala pouco mais de meia dúzia de computadores. Do lado de dentro uma incógnita. Do lado de fora uma verdadeira desorganização, ou melhor, outra incógnita também. Quando vão chamar? Cadê o meu nome da lista?
O tempo passa eu agora já não alimento expectativas de ser chamado logo; encontro um canto e passo a ler um livro que baixei para o meu celular e a leitura segue fluída somente interrompida para que meus ouvidos percebam os nomes que vão sendo chamados, quase gritados; um por um em grupos de no máximo dez nomes. O tempo transcorre e corre. Finalmente sou chamado, faço parte da última turma que fez a prova. Apenas para registro: hora de entrada 13h; hora de saída 17h40.

sábado, 23 de maio de 2009

MAS LIVRAI-NOS DO MAL VI – LUZES E TREVAS

Após quase uma semana internada para recuperar parte da força que a doença tem, vez por outra solapado, a paciente retornou para a casa. Ainda enfraquecida fisicamente e depressiva. Quem a vê se espanta com a visível apatia que demonstra.

A médica que a atendeu desta vez foi a mesma que, algum tempo atrás, a socorreu e a aconselhou seriamente sobre os sintomas e o diagnóstico da doença principal que, pasme amigo leitor, a paciente ainda recusa-se a aceitar; e já se vão mais de dois meses desde que deprimida foi diagnosticada. Desta vez as orientações se repetiram quando do primeiro atendimento hospitalar com um reforço para pequenas ações importantes que ajudarão a paciente a sair do quadro da moléstia principal e assim diminuir as manifestações das moléstias secundárias.

Nada de ficar só deitada. Nada de ficar sem comer ou tomar água. Nada de casa quieta, escura, sombria, gelada, sem vento, sem sol. É preciso abrir janelas. É preciso luz. É preciso sol. É preciso caminhar. É preciso sair para dar uma volta. É preciso ver a natureza, o por do sol, as flores. É preciso fazer o que se gosta. É preciso música. É preciso ver TV. É preciso tomar remédio na hora certa. Tudo devagar, tudo aos poucos, mas tudo isso é preciso fazer.

A sombra cinza sobre a massa cinzenta da paciente deve começar a dissipar-se, de forma mais notória, daqui a não menos do que oito semanas. Que o vagar do tempo passe rápido!

As reações emocionais manifestas no corpo físico ainda são recorrentes e, senão bastassem as já conhecidas, temos mais uma nova e recém chegada: afonia. Reação normal, assim disse a médica, para alguém que carrega um amontoado misturado de sentimentos sobre acontecimentos que, alguns deles, foram fato há 60 anos.

Há uma luz no fim do túnel, ainda distante e pequena demais para um caminho demasiadamente comprido e escuro.

sábado, 16 de maio de 2009

MAS LIVRAI-NOS DO MAL V - SUSTO

Um dos fatores mais cruéis de toda e qualquer doença é o sofrimento que atinge os familiares e amigos mais próximos do doente sempre que algum evento ou manifestação da moléstia se intensifica.

Depois do Dia das Mães a paciente voltou a ter intolerância alimentar e então um dos médicos que a atende, pediu sua internação para hidratação e nutrição. Internada está, e bem se sente, pelo menos tem mais força para falar e disposição para elaborar diálogos ainda que básicos.

Desde a muito, vem sendo solicitado exames sobre exames, análise sobre análise, parecer sobre parecer, laudos sobre laudos e a cada uma destas novas solicitações uma nuvem de dúvida paira sobre a cabeça de quem acompanha e também sobre a mente acinzentada da paciente.

Temos agora a indicação para um novo exame, desta vez neurológico, afim de descartar, nas palavras do médico, “algo mais grave”. Como assim algo mais grave? Tem hora que a Medicina mais assusta do que conforta e cura.

Um susto, um sobressaltar, um pulsar mais forte do coração dentro do peito e um amontoado de idéias e imagens na mente... tudo evocado pela simples frase “algo mais grave”. Ora-bolas, que bom que a Medicina vai atrás dos sustos que ela mesma produz.

A depressão não deprime o nível de consciência de quem padece deste mal. A paciente tem perfeita e exata noção do que está acontecendo e agora, com a aceitação da doença principal, com as forças que lhe restam, luta para voltar a viver, a conviver.

E o tal susto? Por favor, uma coisa de cada vez; venha o que vier, haja o que houver.

terça-feira, 12 de maio de 2009

EU COLECIONO MOEDAS

Senão todos, pelo menos a maioria das pessoas tem o hábito de juntar coisas.

Talvez a Sociologia ou a Antropologia ou a Psicologia ou outra “gia” qualquer possa explicar os motivos e razões por trás deste hábito, mas é fato: existem ajuntadores, e de tudo o que se possa imaginar.

Há quem junte: canetas, fotos, lápis, borrachas, isqueiros, latinhas metálicas, figurinhas, bonecas, brinquedos, carrinhos – de brinquedo ou de verdade -, embalagens dos mais diversos e variados produtos, folhas, papéis, animais, vinhos, amigos, casos, relógios, cédulas, moedas, etc, etc, etc, etc.... e a lista é longa. Eu sou dos que junta coisas, quer dizer, coisa, no singular mesmo, eu coleciono moedas, no plural.

Começou meio sem querer quando meu avô, pai de meu pai, me deu um pote de vidro cheio de esferas metálicas achatadas, isso lá no século passado. Durante os primeiros anos escolares fiz troca com colegas e consegui diversificar um pouco a coleção. Lembro de uma situação inusitada quando minha primeira “namoradinha” me entregou um monte de moedas dos Estados Unidos; nossa! fiquei felizão, mas alegria de pobre dura pouco e alguns dias depois o “quase-sogro” pediu as moedas de volta. Minha primeira grande aquisição e tive que devolver... foi horrível e constrangedor à época; hoje, hilário. Depois deste incidente monetário, outras doações acontecerem, mas todas, sem a necessidade de devolução.

Longe e distante de ser um Tio Patinhas e precisar de cofres e mais cofres para armazenar as moedas que ajuntei, tenho apenas um par de pastas onde estão pelo menos um exemplar de cada moeda e algumas caixas organizadoras onde estão separadas por país, no caso das moedas estrangeiras e por valor, no caso das moedas brasileiras.

Está afim de colaborar com a minha coleção?? Mande um email ou deixe o seu recado aqui no blog... só não vale depois pedir pra devolver... (risos)... traumatizei!

domingo, 10 de maio de 2009

NO DIA DAS MÃES

Hoje é domingo, o segundo domingo do mês de maio data em que, tradicionalmente, comemora-se o Dia das Mães.

O comércio faz a festa. São filhos, maridos, algumas noras e genros e netos, todos enchem e lotam ruas, lojas, shoppings e centros comerciais em busca de alguma lembrança, algum presente, desde os mais chiques, requintados e sofisticados até a tão famosa, mas nem por isso menos importante, lembrancinha.

O ditado diz que “mãe, só tem uma” e nesta singularidade materna existe uma diversidade ímpar. Tem mãe rica, pobre; branca, negra; executiva, desempregada; crente, descrente; gorda, magra, sarada; brasileira, estrangeira; casada, solteira, separada, sozinha, acompanhada; jovem, madura; biológica, adotiva; mãe que também é pai e pai que também é como uma mãe.

Não importa como ela é. Importante e ser para ela presente de carinho, amor, afeto, admiração e respeito. Sejamos nós, você e eu, filhos que somos de nossa mãe, o melhor presente para ela.

MÃE, EU TE AMO!

FELIZ DIA DAS MÃES!

sexta-feira, 8 de maio de 2009

MAS LIVRAI-NOS DO MAL IV – SONHO COLORIDO

Esta semana foi especial, ou pelo menos diferente, no tocante ao movimento de reação da paciente em busca de uma vida mais colorida. Ela pediu para dar um passeio. E o que tem de extraordinário em alguém pedir para dar um passeio? Para informação e conhecimento: é altamente positivo para o paciente com diagnóstico de depressão manter as atividades o mais próximo possível da normalidade antes da manifestação sistêmica da doença, então uma solicitação para sair da atual rotina – cama, remédio, cama – é um indicativo de que “saímos da inércia depressiva”, e viva!

Passeio tranqüilo, não muito demorado mas nem curto demais, e ao retornar para casa retornaram também as crises bulímicas. Reaparece a preocupação para com a paciente por parte de quem cuida ou ajuda a cuidar. Fui então em busca de explicação tentando entender o motivo da aparente insistente bulimia e tive a informação de que a reação pós primeiro passeio é perfeitamente normal; valorizar a solicitação para sair da “inércia depressiva” é fundamental e importante, concentro-me então no que é importante!

Já temos com a paciente um nível muito bom de interação, diálogos, conversas e uma vez por outra um sorriso. E foi em um dos momentos de interação que ela – a paciente - relatou espantada como tem sentido muito sono, com tem dormido demais e como tem sonhado bastante. Isso é muito bom, dizem os médicos, pois no repouso o organismo renova as forças e no sonho o cérebro organiza, literalmente, as idéias. Nunca ter sonhos fez tanto sentido para a vida.

O meu sonho ainda é o mesmo. Cada vez mais real. Cada vez mais colorido.

Aprendi e aprendo com a doença da paciente e a lição que fica, primeiramente para mim e tomara que para você que acompanha a série “Mas Livrai-nos do Mal”, é a de que o mundo é feito e tem várias cores e a cor cinza é uma delas.

sábado, 2 de maio de 2009

NEM TÃO PESADA ASSIM

Um amigo de longe, enviou um email com algumas imagens e imagens contam história e esta era mais ou menos assim...

Conta-se a história de um homem, mas poderia também ser uma mulher, sobre quem foi posta uma pesada cruz feita de madeira e, depois de posta por sobre os ombros o homem recebeu orientação de que caminhasse pela estrada que à sua frente estava.

Ao dar os primeiros passos pelo caminho o homem percebeu que não estava sozinho e que outras pessoas, homens, mulheres e também crianças, caminhavam ao lado dele e cada um tinha também posta sobre os ombros, cruz. Entretanto, quanto mais caminhava, mais o homem sentia o peso da carga. Ele atônito olhava ao redor para ver se alguém poderia ajudá-lo a carregar a sua cruz ou ainda para ver se alguém, assim como ele, estava sentindo o pesar do fardo; não encontrando quem o pudesse ajudar, parou de caminhar, depositou sua cruz ao solo e erguendo a voz ao céu disse: “Senhor, esta cruz é muito pesada, posso serrar um pedaço dela?”. O Senhor tentou dissuadi-lo desta vontade, mas foi em vão; então carinhosamente, permitiu que o homem serrasse um pedaço da cruz afim de torná-la mais leve. E o homem serrou um pedaço de sua cruz.

Voltou então a caminhar mais disposto e feliz. Entretanto, conforme a continuava a caminhar pela estrada, a cruz então parecia ser, outra vez, pesada demais e mais uma vez parou, deitou a cruz no caminho, reclamou do peso que carregava e serrou mais um pedaço. Agora sim, tomou a cruz nos ombros e continuou a andar. O caminho não mais parecia penoso e nem o fardo demasiadamente pesado.

Mais alguns passos e então o homem se deparou com uma fenda profunda e larga no meio do caminho. Surpreso e atônito procurou um atalho para que pudesse desviar da fenda no caminho e continuar sua jornada, mas em vão. Foi então que ele percebeu como as outras pessoas estavam transpondo a fenda. Elas deitavam, cada uma a sua própria cruz por sobre o abismo e esta servia-lhes como ponte afim de transporem o abismo.

O homem agora tomado de tristeza e remorso percebe que a cruz que lhe foi posta nos ombros, no começo da estrada, era na medida exata para que ele pudesse atravessar o abismo. E fim da história.

Talvez você esteja vivendo algum momento que possa parecer ser pesado demais. Eu estou vivendo um momento que me parece ser pesado demais, mas tenho a certeza de que o que hoje parece ser demais há de fazer de mim uma pessoa melhor, há de fazer por mim coisas incríveis e há de ser para mim, ponte.

Obrigado amigo Paulo pelo email.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

CINZA DAS HORAS CINZAS

Cinza é a tristeza
Falta de alegria.
Mundo sem cor
Monocromia e dor.

Distante
Se ressente
E sente
Doente

Pesada nuvem de apatia
Borrão de apenas uma cor
Sem graça e sem luz

Um ponto
Um momento
Um gesto,
Aceno

É dó.
É só!

quarta-feira, 29 de abril de 2009

EM UM SÓ ESPIRRO

E cá estamos nós envoltos e às voltas com mais uma crise ou prenuncio do que pode ser um deflagrar de pânico, desespero e desesperança mundo afora. Tudo por causa de um serzinho minúsculo, microscópico, mas nem por isso menos forte e poderoso a tal ponto que já deixou as economias nacionais em estado de alerta.

Apelidada inicialmente de ‘gripe mexicana’ e mais recentemente como ‘gripe suína’, esta moléstia parece não respeitar fronteiras geográficas ou sociais e já faz suas primeiras vítimas pelos quatro cantos do mundo.

Enquanto vacina não existe o jeito é tratar dos sintomas e tomar todos os cuidados a fim de barrar a proliferação de mais esta praga mutante.

terça-feira, 28 de abril de 2009

POR SUSAN BOYLE

Já escrevi anteriormente sobre a arte de cantar – (vide texto Com o que você canta? de 04/07/2008) - e em minhas considerações ponderei que nem sempre quem canta consegue tocar quem ouve. Disse ainda que a provável causa desta ineficiência estaria ligada à falta de sentimento por parte de quem canta.

Pois bem, nestas últimas semanas inúmeras foram as divulgações sobre uma jovem senhora que, desprovida de alguns atributos e provida de outros, encantou, literalmente, milhares e milhões de expectadores e ouvintes por todo o mundo. Susan Boyle canta e mais do que cantar, encanta quando canta.

Mas, se ela canta bem, qual então seria o motivo do espanto mundial no tocante ao fato de como pode ela encantar tanta gente em tão pouco espaço de tempo?

Tenho algumas teorias-respostas para esta estupefação mundial que tomou conta do mundo real e virtual, eis meus pontos de vista

Ela canta com a voz. Em um meio e mundo – artístico – onde cada vez mais são valorizados os atributos físicos, pipocam e abundam na tela da TV ou do computador um verdadeiro festival de corpos, peitos, bundas e silicones, principalmente entre as mulheres e ver uma mulher trajada de forma não-vulgar é de espantar mesmo. Susan não precisa mostrar o corpo para provar que tem talento. Sua arte, sua graça, seu encanto está na rica, suave, fina e tranqüila voz trabalhada com afinco e determinação. Os requebros de quadris são para quem não tem talento, que dirá talento vocal!

Ela canta o que sente. A escolha do que cantar, no caso de Susan, não poderia ter sido mais feliz! Ao cantar a canção “I dreamed a dream”, do musical Os Miseráveis, ela cantou sobre sonhos e realizações e desilusões de uma gente excluída, ela cantou a própria história. Cada frase, cada palavra, cada letra, cada nota tinha o vívido lampejo de uma vida inteira. Por ela, ela cantou.

Ela canta uma verdade. Somente Susan poderia ter dado o peso e a sublime interpretação para esta canção pois por ter vivido e por viver os versos da canção, estes eram para ela reais, verdadeiros. Ela cantou o que chamam de “a sua verdade”, não a história de um amor ou desamor de um outro alguém; ela cantou sobre ela, dela e primeiramente para ela mesma; abriu a sua boca em um pungente grito, de sua alma brotou o clamor de alguém que está cansada de ser julgada e pré julgada por vis estereótipos. Para ela, ela cantou.

Ela canta por mais de um. Naquele momento, Susan, depois de ser desacreditada pela platéia e pelos jurados, tornou-se porta-voz de uma multidão de pessoas que são marginalizados pelos mais diversos motivos, oprimidos e muitas das vezes ridicularizados, que carregam o opróbrio do pré-conceito individual ou coletivo. Por estes, ela cantou.

Susan hoje é famosa, requisitada para dar entrevistas para todo o mundo; o mesmo mundo que muitas das vezes rio dela por julgá-la incapaz de, por exemplo: cantar.

Cada um sabe o que aprender com a história da aparição e interpretação de Susan Boyle. Tire você mesmo suas conclusões e enquanto você pensa sobre os porquês e os para quê, que tal ouvir alguém que canta, encanta e que consegue tocar a alma.

http://www.youtube.com/watch?v=j15caPf1FRk

domingo, 26 de abril de 2009

MAS LIVRAI-NOS DO MAL III – DA INÉRCIA À REAÇÃO

A semana seguiu diferente, mas comum; novas experiências, vivências e descobertas surpreendem a quem mais de perto acompanha o desenrolar da doença e a busca pela cura.

Familiar veio passar algumas horas aqui, contudo gelado chegou e mais gelado ainda saiu; pouca ou nenhuma interação, afeto, carinho houve com a paciente. Algumas pessoas lidam melhor com as dificuldades da vida, outras nem tanto. Mas a despeito da aparente apatia, sei que existem amor e interesse na recuperação da paciente, só não se sabe como demonstrar isso a despeito de experiências nem tão boas assim.

Seguiram-se consultas a outros médicos acerca dos sintomas secundários; todos os exames solicitados confirmam a diagnose principal. Início do tratamento terapêutico com forte resistência e alta descrença por parte da paciente, reações normais, medicação para o problema principal.

É interessante notar que a cada resultado de exame apontando padrão normal a paciente parece se surpreender, pois mesmo sentindo os mais diversos sintomas os exames não apontam nada de diferente ou incomum ou fora do padrão. É como se ela, a paciente, ainda não acreditasse que a base de quase todos os sintomas – secundários – tem fundo emocional; é preciso tratar a alma.

Já percebemos sutis, leves, delicadas e pequenas melhoras no estado geral da paciente; ela, contudo, ainda vê o mundo ainda bem cinza. O que tem sido causa de preocupação são as crises bulímicas e anoréxicas, ainda recorrentes, porém com menos intensidade e freqüência.

Temos um pouco mais de interação com a paciente; pequenos diálogos, poucas frases, mas é assim mesmo, o caminho de volta é lento, bem lento. Sair da inércia, em qualquer estado, exige mais esforço, exige reação.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

GOTAS

Passagem de graça
Avião
Aeroporto
Saguão
Deu tempestade,
Só de trovão.
É o fim da verba!
Só ilusão.

No sul, há seca
No norte, chuva.
O Rio sem praia
São Paulo: rua!

A crise aumenta,
A gente agüenta.

Ministros.
Justiça-cega.
Bate-boca.
Discussão.
Talvez crise!
Sinceramente?
Só liberdade de expressão.

Imposto.
Leão.
Mordida.
Bocão.
Cadê a minha restituição?

domingo, 19 de abril de 2009

MAS LIVRAI-NOS DO MAL II - ACEITAÇÃO, FUGA E ACEITAÇÃO

Certa vez quando eu fiquei bem ruim de saúde por conta de uma infecção por três vírus que resolveram fazer acampamento dentro do meu fígado e todos os três ao mesmo tempo, uma das enfermeiras que me atendeu, estando eu internado, vendo meu estado debilitado me disse uma coisa que nunca esquecerei, assim ela sabiamente falou: “Não sei o que você tem, mas você só vai morrer disso, se você quiser.” Rapidinho me recuperei.

O primeiro passo para a recuperação é aceitar o diagnóstico e nem sempre aceitar o diagnóstico de depressão é tão fácil quanto o de uma gripe, por exemplo.

Ela não aceitou e buscou subterfúgios para cada um dos sintomas que, dada a baixíssima taxa hormonal e o elevado grau da agora instalada depressão, eram cada vez mais fortes, presentes, recorrentes.

E lá vamos nós, ainda com pouca informação sobre a doença, em busca dos médicos para os sintomas mais fortes. Enquanto um seguia pelo caminho dos médicos, outro foi à internet pesquisar sobre o problema central e pesquisa daqui, conversa com colegas que já passaram por situação semelhante ou que tratam de pessoas deprimidas, fica cada vez mais evidente que o que está sendo tratado são os sintomas acessórios e não o problema central. Mas ela quer assim, primeiro cuidar dos acessórios pra depois ver o principal.

Interna-se em uma clínica de tratamento natural, movida de esperanças e expectativas de que sairia de lá curada, boa, nova em folha, entretanto ao fim de meio-mês de internação não apresentou melhora significativa para os sintomas acessórios. Mas nem tudo estava perdido e mais uma vez ela ouve que o problema principal precisa ser tratado em primeiro lugar. Nega-se, contudo, a acreditar que esteja com depressão.

De volta ao lar, tudo a enjoa, já não se alimenta corretamente e nem mesmo água seu organismo passa aceitar; o que a deixa ainda mais debilitada e resistente a tratar do problema principal. Um exame previamente agendado para tratar de um sintoma acessório a leva ao hospital e como que por milagre ao encontro de uma médica, daquelas nos moldes da antiga escola de medicina, que vendo o estado dela e já acostumada a lidar com quadros assim, pede a sua internação imediata para alguns exames.

Os exames não apontam nenhum descompasso ou alteração a não ser a confirmação do diagnóstico principal dado pela ginecologista quase três semanas atrás. A médica então tem duas conversas sérias, em momentos diferentes, com a paciente. É preciso aceitar, é preciso tratar o principal, deixar de fugir, de esquivar-se, de esconder-se. A paciente rebate expondo seus argumentos em defesa dos sintomas acessórios, negando-se, contudo a aceitar seu quadro depressivo e pelo desenrolar dos fatos, anoréxico e ictérico; a médica não se intimida e fala mais diretamente. Parece haver um aquietar-se dentro da paciente. Ela só ouve. Se concorda? Tomara!

Alta hospitalar assinada. Esqueça os remédios fitoterápicos, homeopáticos, os que foram receitados para tratar os sintomas acessórios; fica apenas um antidepressivo e a indicação urgente para uma consulta e não com psicólogo e sim com psiquiatra. Consulta agendada. De volta para casa. Ainda descrente do diagnóstico principal, mas pelo menos consciente de que é preciso tratar, e com urgência, dos problemas da alma para que os sintomas acessórios desapareçam.

Cada dia tem sido, para quem participa deste ambiente, uma experiência de paciência, amor, carinho, de ouvir, de pouco falar, de sabedoria no dizer e mais importante do que tudo isso: de confiar, no tratamento e acima de tudo, em Deus.

Eu confio!

sexta-feira, 17 de abril de 2009

MAS LIVRAI-NOS DO MAL I - INTRODUÇÃO

Mas o que raios afinal é esta tal de depressão?

Quando eu mesmo, já enfastiado de ouvir falar sobre depressão e no alto de minha auto-suficiência sobre o tema, achava que fosse o dito mal apenas pura e simplesmente um sentir-se triste demais; fui pego de surpresa. Assustado acordei do torpor em que estava sobre este assunto ao ter dentro de casa um familiar a padecer do triste mal do século, a saber: depressão.

Este texto é a expressão escrita do que tenho visto, analisado, trocado com poucos amigos e aprendido sobre esta tal de depressão.

A história começa mais ou menos assim...

Dores, calafrios, irritabilidade, apatia, euforia, enjôos, náuseas, insônia, foram estes alguns sinais, os primeiros talvez, de que alguma coisa não estava indo bem com ela. Nem todos estes supracitados sintomas aconteceram juntos ou seqüenciados. Ora um, ora outro, ora uns, ora outros, mas o fato é que eles eram indicativos claros de que um desequilíbrio químico estava acontecendo e não foi percebido nem por ela mesma, nem pelos familiares, nem pelos muitos médicos que foram consultados.

O quadro foi se agravando paulatinamente e, sem informação adequada, sempre havia um remédio – receitado por médico – para cada um dos sintomas afinal era só um: mal jeito na coluna, uma queda de pressão, um problema gástrico, um estresse por causa das mudanças (de casa e da separação dos filhos).

A constatação de que o quadro era de depressão veio depois da exclusão dos seguintes diagnósticos: infecção urinária, toxoplasmose, problemas agravados pela osteoporose – ah sim! Estes diagnósticos não foram dados pelos médicos após a tal da anamnese. A própria que, sempre era interrogada pelos médicos que perguntavam: “O que a senhora acha que tem?” Ora pois e eu que pensei que os médicos estudavam justamente para que eles respondessem esta pergunta, e não o paciente. Vai ver que de uns tempos pra cá algumas coisas mudaram nas faculdades de medicina.

Uma ginecologista apontou uma luz certeira: depressão química por hipotireoidismo! Bingo!! Enfim um profissional como antigamente, que sabe o que faz.

E faz exame. E não é que o tal hormônio está mesmo bem baixo. A médica estava certa no diagnóstico e no tratamento para repor o hormônio e na indicação de terapia... e foi aí que começou, de fato, a parte mais complexa da história que é conviver com quem tem depressão.

O primeiro passo é aceitar... (continua...)

terça-feira, 14 de abril de 2009

EM BRASÍLIA, 19 HORAS

A crise econômica que solapa os países e as gentes – que o nosso digníssimo mandatário-mor insiste me chamar de ‘marolinha’, como que para escarnecer dos milhares de ‘surfistas’ desempregados - parece ter batido asas e voado longe de Brasília, mais precisamente, longe da Câmara e Senado Federal.

Os gastos, o desperdício, o desarranjo, a desordem e o mau governo dentro das duas casas às vezes dão a impressão de estarem as duas em uma disputa olímpica para ver quem apresenta maior improbidade administrativa, especialmente no que diz respeito ao erário.

Ah, sim, pode ser que eu esteja exagerando, vamos aos fatos – das últimas semanas para que a lista não fique muito extensa:

Funcionários que não fizeram horas extras, pois as casas estavam em pleno gozo de férias, receberam – para pleno gozo deles – remuneração acrescida de valor referente a horas extras
Mais de 180 diretores e assemelhados, principalmente no que diz respeito à remuneração, para organizarem uma das casas. O mais ridículo neste fato do excesso (e alguém duvida que é abusivo 181 diretores??) é que o atual presidente da casa “hiper-diretiva” foi à TV e aos jornais dizer que ele mesmo fazia muita questão de rever todas as nomeações etc e blá-blá-blá... só esqueceu de dizer que pelo menos 130 - dos 181 - foram nomeados por ele mesmo quando era o então presidente da casa. Isso realmente foi patético e enfadonho, mais até do que ouvir do mesmo a famosa frase que se tornou seu bordão: “Brasileiiiros e brasileiiiras...”
Verbas indenizatórias aviltantes se comparadas ao salário de fome de milhares de aposentados e pensionistas e trabalhadores.

E ainda os senhores e senhoras deputados e senadores querem mais; mas trabalho mesmo que é bom, deste querem eles menos; deles, eu quero é menos.

E chega! Basta!

segunda-feira, 6 de abril de 2009

INCLUSÃO

Em visita a uma feira voltada para o segmento dito antes deficiente, agora portador de necessidades especiais, constatei e atestei para meu espanto, felicidade e satisfatória surpresa que neste mundo plural, diverso e diferente, inclusão tem mais a ver comigo do que com quem eu tenha rotulado e classificado como “especial”, senão, pensemos sobre o assunto...

Hoje é socialmente responsável e bonito falar e dizer e propagar e anunciar a tal da inclusão; mas o que é inclusão? Para quem é a inclusão? Para quê incluir?

Eis a minha definição pessoal que escrevi depois de ler muitos artigos e tratados e matérias sobre o tema da inclusão. Chego a conclusão que inclusão é o esforço que a sociedade através de suas instituições representativas - como por exemplo: empresas, sindicatos, associações, escolas, dentre outras – faz no sentido de disponibilizar e tornar acessível à toda pessoa que de forma natural ou adquirida tenha uma necessidade especial, incapacitante ou não, definitiva ou temporária, o usufruto pleno de sua cidadania, aqui incluído seus direitos e deveres.

Tendo como base a definição acima e em busca de conhecer melhor este universo aventurei-me pela 8ª Reatech (Feira Internacional de Tecnologias em Reabilitação, Inclusão e Acessibilidade) e eis minha percepção de tudo o que vi do dito mundo das pessoas deficientes ou pessoas portadoras de necessidades especiais ou pessoas especiais.

A maravilha da diversidade já podia ser vista na entrada. Centenas – sem nenhum exagero ou hipérbole – centenas de pessoas confortavelmente instaladas em cadeiras de rodas eram só sorrisos e poses para registro fotográfico diante do painel com a logomarca da feira. Um cego com seu cão-guia ditava seus dados pessoais para uma jovem senhora afim de efetuar seu cadastro e receber seu crachá de acesso. Enquanto isso, do lado desta senhora, um outro grupo de pessoas animadamente se confraternizava ao “som” de suas mãos e expressão corporal. Senti-me inteiramente diferente, deficiente, pois não tenho habilidade para usar a cadeira de rodas; tenho dificuldade para confiar nas pessoas, que dirá confiar em um cão para me guiar e a forma usual de minha expressão é oral e limitada, desprovida da beleza plástica da expressão do corpo e mãos.

Fiz meu cadastro sentindo-me como um estranho e entrei no espaço da feira.

Ajustei meu localizador interno – o tal do GPS – e parti para uma aventura e tanto. O primeiro corredor que visitei foi o do artesanato e uma infinidade de formas e expressões artísticas estavam bem diante de meus olhos. Minha atenção foi desperta para o trabalho fantástico de um jovem que pinta quadros, belas paisagens e imagens, usando a boca e enquanto meus olhos pareciam hipnotizados com a destreza deste artista, meus ouvidos captaram o som de uma música... alguém canta e canta muito bem. No final do corredor, sobre um palco uma jovem cega – sei que era cega porque ela mesma, ao apresentar-se no intervalo entre uma canção e outra, disse ser – enchia o espaço com sua interpretação viva e brilhante de grandes sucessos de nossa MPB; enquanto sua voz ecoava como num colorido, toda a qualidade vocal e musical poderia ser também vista graças às mãos e expressão de uma intérprete da Língua Brasileira de Sinais. A música podia ser ouvida e também vista. Eu vi a música. Investi uns bons momentos para acompanhar este belo dueto de uma só voz.

Prosseguindo entre os corredores da feira tomei conhecimento de uma infinidade de serviços e produtos pensados especificamente afim de atender desde as mais simples até as mais complexas atividades do dia-a-dia de toda a pessoa, especial é claro. Contudo ainda que eu tenha ficado boquiaberto com as soluções da mais rudimentar até a mais tecnológica, o que deixou em mim uma marca, um sinal profundo, foi ver pessoas felizes. Ah sim, estavam em cadeiras de rodas, andavam com o auxílio de muletas, usavam bengalas para ver, eram guiados por cães, conversavam com as mãos – estas eram as pessoas mais felizes que vi na feira.

Por pouco mais de 2 horas estive submerso em um mundo onde o diferente, deficiente e portador de necessidade especial fui eu. Desprovido, talvez, da coragem e felicidade em viver que vi estampado em cada rosto, se como eles tivesse eu que enfrentar a ausência de visão ou dificuldade de expressão ou locomoção.

Mas o que é mesmo inclusão? Para quem ela se destina e com que finalidade?

Tenho que reformular meu conceito e entender que inclusão não é para os outros, é em primeiro lugar para mim mesmo.

quinta-feira, 26 de março de 2009

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI... MAS NÃO DE FLORES

Algumas vezes as situações que a vida propicia fazem com que nos tornemos mais atentos a determinadas situações e acontecimento que, talvez de outra forma, passassem por nós de maneira despercebida.

Estes últimos dias, por conta de uma situação familiar bem especial, eu estou um poupo mais sensível e perceptível ao que está ao meu redor, principalmente àquilo que me é dito. Não nego que as palavras exercem sobre mim um fascínio e um encantamento únicos.

Dado o momento pessoal percebi e constatei, para meu espanto e surpresa, que algumas das frases que me foram dirigidas ultimamente não passaram de um amontoado de palavras vazias, ocas, desprovidas do real sentimento que elas deveriam expressar. Promessas, juras, votos, aspirações, desejos e anseios sem eles mesmos.

Mas o exercício do dizer é assim mesmo. Dito e remetido de uma forma, entendido e recebido de outra.

Desculpe meu desabafo, mas é que a constatação do vazio no dizer de alguns incomodou-me imensamente e tenho no escrever, no dizer no papel, no dizer numa tela de computador a oportunidade de um cateterismo nas veias entupidas de minha alma.

Felizes os que dizem com propriedade.
Bem-aventurados os que recebem palavras com conteúdo.

quinta-feira, 19 de março de 2009

A ARTE DE FAZER ARTE

O que temos feito com nossas mãos?

Esta talvez seja a principal pergunta para que você e eu comecemos a melhor entender que na minha, na sua, em nossas mãos encerram-se infindáveis oportunidades do fazer a despeito de qualquer classe social, posição ou viabilidade econômica ou ainda técnica.

Existe uma infinidade de tipos de mãos: grandes, pequenas, finas, grossas, lisas, enrugadas, limpas, sujas, bonitas, feias, brancas, pretas, pardas, abertas, fechadas, estendidas, recolhidas; mãos que matam, que dão vida, que auxiliam, que atrapalham, mãos paradas, movimentadas e até mãos que falam quando a boca não pode expressar os anseios da alma.

Um grupo especial de mãos são aquelas que conseguem transformar o comum em incomum, acrescentando o suave toque do artesanato ao dia-a-dia de outras mãos.

A aprazível arte da arte-de-fazer-arte não olha para o tipo de mão.

A arte-de-fazer-arte está na disposição e vontade da alma em perceber, notar, olhar e ver possibilidades onde muitas mãos talvez nada tenham visto e assim, quem sabe, pela transformação do cotidiano, pelo revolucionar positivamente o meio ambiente social, reciclando vidas, sejam as tuas mãos incentivo para que a minha mão possa fazer a diferença com a arte que me é peculiar.

Em comemoração ao Dia do Artesão.

quinta-feira, 12 de março de 2009

CRÔNICAS DO REINO III - A MOLÉSTIA

Este texto não tem a pretensão de ser um resumo jornalístico. Os nomes de alguns personagens foram alterados a fim de garantir e preservar suas identidades. Qualquer semelhança com fatos reais não terá sido mera coincidência.

Era uma vez – na verdade não aconteceu só uma vez, aconteceram várias e várias vezes e ainda hoje acontece também, mas como tenho que começar suave então fica como se fosse apenas uma vez – em um reino nem tão distante assim, onde o rei pouco mandava e quem deitava e rolava, quer dizer, ditava a ordem, ou melhor, a organização da desordem, eram os amigos do rei; havia uma festa, e das grandes.

Esta festa envolvia todo o reino e até de certa forma fazia com que os nobres, os quase-nobres, os plebeus, os pobres, os miseráveis e os outros se misturassem e celebrassem nem eles mesmos sabiam o quê, mas havia celebração em todo o reino e o rei gostava.

Nesta época, porém, uma grave moléstia abateu-se sobre algumas regiões do reino, infectando um número considerável de pessoas, a maioria delas da plebe para baixo na íngreme escada-escala social. Estes pobres cidadãos, literalmente falando, buscaram então auxílio na propagada maravilhosa, eficiente e moderna rede oficial de atendimento à saúde mantida, ou melhor, sucateada e desassistida pelo reino.

Os já abatidos e enfermos súditos tiveram ainda, não obstante o decrépito estado de saúde em função da moléstia inicial, combater e encontrar forças para sobreviver a uma segunda moléstia que foi a falta de profissionais habilitados e aptos ao atendimento, ao socorro médico em época de festança nacional, em época de feriado, em época greve, enfim, em qualquer época do ano, em qualquer época de uma vida inteira.

Moral da história: No reino nem tão distante assim, a principal e mais mortal moléstia é a do descaso e omissão.

terça-feira, 10 de março de 2009

CRÔNICAS DO REINO II - O CASTELO DE GRAYSKULL

Este texto não tem a pretensão de ser um resumo jornalístico. Os nomes de alguns personagens foram alterados a fim de garantir e preservar suas identidades. Qualquer semelhança com fatos reais não terá sido mera coincidência.

Era uma vez – na verdade não aconteceu só uma vez, aconteceram várias e várias vezes e ainda hoje acontece também, mas como tenho que começar suave então fica como se fosse apenas uma vez – em um reino nem tão distante assim, onde o rei pouco mandava e quem deitava e rolava, quer dizer, ditava a ordem, ou melhor, a organização da desordem, eram os amigos do rei e um destes amigos construiu uma cidadela.

Na imensidão territorial do reino, procurou um lugar tranqüilo e lá mesmo deu início a construção para seu usufruto, deleite - mas depois ele disse que era para o herdeiro - de um simples, singelo, quase imperceptível e básico castelo. Mas aconteceu que este amigo do rei passou por um problema sério de saúde, uma perda de memória gravíssima e esqueceu-se de informar ao rei sobre sua nova e humilde morada.

Na mesma região onde o castelo já erguido reinava imponente – sem ser perturbado por nada e nem por ninguém -, um súdito, subalterno, quase escravo do reino que vivia, ou melhor, tentava viver com a mínima remuneração paga pelo reino, resolveu construir um quartinho bem pequeno a fim de dar um pouco menos de desconforto aos seus familiares.

Como que por passe de mágica - e neste reino, só mesmo a magia para explicar muita coisa que por lá acontece – apareceu um agente coletor-impostor, amigo do rei, e do alto das obrigações e responsabilidades que o cargo, dado pelo rei, lhe conferia, embargou a obra, multou o pobre coitado cidadão, ameaçou-o com despejo e quase o colocou na cadeia.

Moral da história: No reino nem tão distante assim... ih! esqueci a moral - da história - , tudo bem, sou amigo do rei.

domingo, 8 de março de 2009

CRÔNICAS DO REINO I - A OVELHA

Este texto não tem a pretensão de ser um resumo jornalístico. Os nomes de alguns personagens foram alterados a fim de garantir e preservar suas identidades. Qualquer semelhança com fatos reais não terá sido mera coincidência.

Era uma vez – na verdade não aconteceu só uma vez, aconteceram várias e várias vezes e ainda hoje acontece também, mas como tenho que começar suave então fica como se fosse apenas uma vez – em um reino nem tão distante assim, onde o rei pouco mandava e quem deitava e rolava, quer dizer, ditava a ordem, ou melhor, a organização da desordem, eram os amigos do rei; aconteceu uma violência sem tamanho.

Uma pobre camponesa tinha apenas duas ovelhas de estimação e para com estas ovelhas ela era muito cuidadosa e caprichosa. Mas certa vez um homem mau atacou violentamente as duas ovelhas deixando uma delas seriamente ferida e machucada a tal ponto que a vida desta ovelha estava em risco. A polícia do reino descobriu o agressor, prendeu-o e na cadeia ele confessou seu crime.

Agora, a dona da ovelha, levou seu querido animalzinho para os médicos afim de que eles pudessem salvar a vida de seu bem mais precioso; mas a operação que poderia salvar a vida da ovelhinha não era aceita por representantes de um conselho moral importante e influente no reino.

Estabeleceu-se um impasse. De um lado uns apoiando a pobre camponesa na tentativa de salvar a vida de seu tesouro. Do outro lado pessoas solidárias aos membros do conselho moral que agora, diante do iminente procedimento médico, ameaçaram cancelar os vistos de acesso ao reino-melhor de todos aqueles que se envolvessem na operação médica, caso a ovelha fosse mesmo operada.

E foi! Cirurgia realizada. Ovelha salva, camponesa feliz e aliviada com a recuperação da saúde de seu querido animalzinho de estimação. Contudo esta mesma camponesa e toda a equipe médica tiveram seus vistos de acesso ao reino-melhor cancelados pelos membros do conselho moral.

O vil bandido que violentamente atacou as pobres e indefesas ovelhas quase causando a morte de uma delas, este não perdeu o visto.

Moral da história: No reino nem tão distante assim, a depender da decisão dos membros do conselho moral, é melhor não ir para o reino-melhor... lá só entra bandido.

segunda-feira, 2 de março de 2009

SOU

Já vai longe o tempo em que eu era eu mesmo. O tempo em que eu sou eu e pronto já é findo. Se assim não é, veja comigo o que eu agora sou, no que fui transformado.

Sou número, sou letra, sou número e letra junto, sou código de barra; sou usuário, sou login e senha e as vezes contra-senha; sou saldo em banco, cartão magnético, sou foto no crachá, sou pedaço de papel plastificado; sou dado, informação, sou bit em banco de dado; sou página na internet, sou perfil, sou email, sou vídeo no youtube; sou anônimo, pseudônimo, sou convidado, visitante, hacker invasor.

Hoje sou
Talvez eu mesmo.
Amanhã, que sabe?

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

DEPOIS DO DOMINGO

O que acontece logo após os apresentadores das revistas eletrônicas televisionadas dizerem a famosa frase: Boa noite. ?

No sofá da sala há um corpo preguiçosamente estirado, largado e esparramado. Controle remoto em uma das mãos, brinco de trocas os canais na televisão procurando alguma coisa que desperte a atenção, mas nada parece mudar a triste constatação: depois de hoje, amanhã; depois de domingo, segunda.

Segundas-feiras são invariavelmente tediosas, preguiçosas, chatas e longas. Eu não gosto delas!

Segunda-feira, segunda chance, segunda chamada, segundo lugar, carne de segunda, segundo turno... não gosto delas!

domingo, 1 de fevereiro de 2009

ESCREVENDO

Quando escrevo não gosto de barulho. O ruído externo incomoda a melodiosa sinfonia das sinapses neurais no ir e vir de reações químicas e micro-correntes elétricas do meu pensamento voltaico.

Quando escrevo faço uso de papel e caneta. Sou de uma geração que aprendeu a escrever não diante de uma tela de computador, mas utilizando folhas brancas alcalinas. Se tento escrever usando o teclado, trava-me a mão pelo tropeças da mente.

Quando escrevo não fico matutando, maturando ou pensando muito no que escrever, no como escrever ou que palavras devo utilizar. Deixo fluir o pensamento na dinâmica galopante das idéias, palavras, frases.

Quando escrevo faço com paixão e intensidade pois sei que o meu escrever há de encontrar-se com o seu ler. Que este encontro então seja um bom encontro do seu querer com o meu dispor.

Quando escrevo, sou você.

Quando você lê, sou eu.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

ENQUANTO EU TIRAVA FÉRIAS

Me permiti uma vírgula, uma pausa, um quase ponto na aprazível rotina de pensar e escrever afim de oxigenar meus neurônios e, sem nenhum constrangimento ou culpa, curti uma preguicinha cerebral.

De volta as letras, palavras, frases e textos atestei que a grafia, a ortografia já não é mais a mesma para uma infinidade de expressões.

Na terra do Tio Sam, do bacon com ovos no café da manhã, alguma coisa está diferente. A Casa Branca anda mais colorida.

A crise econômica mundial, dizem analistas, há de continuar a estender seus tentáculos e solapar mais alguns empregos para desesperança de alguns e esperança, acreditem, de outros como o nosso mandatário-mor que por vezes continua a jurar de pé-junto que a pátria-mãe está em mar-de-rosas... e o povo sentado nos espinhos.

Na Terra Prometida a promessa de uma trégua no tétrico espetáculo bélico, ficou mesmo só na promessa.

Pessoas nasceram, morreram; ganharam, perderam; tudo isso enquanto eu tirava já não sei mais se foram ou não merecidas férias cerebrais.

O mundo gira, eu com ele. Estou nele, faço-o girar.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

ACADEMICAMENTE FALANDO

As pessoas gordinhas ou levemente incomodadas com o próprio IMC – Índice de Massa Corpórea – elevado que me desculpem, mas tenho descoberto que é mais, muito mais difícil, mas nem por isso menos divertido, ganhar do que perder peso.

A dinâmica de ganhar peso não é nada fácil e talvez até mais complexa e árdua do que a que muitos dizem ser um esforço sobrenatural: perder peso.

Em uma sociedade onde milhares lutam para entrar em peças de roupas cada vez menores, eu tenho ido de livre e espontânea vontade no caminho contrário (será que sou anarquista ou revolucionário?) e me esforçado – esforço literal – para usar peças de roupas cada vez maiores.

Não é segredo para ninguém que estou já faz algum tempo, modestos dois meses, em uma prazerosa, divertida, suada e curiosa rotina de malhação; só que desta vez estou malhando o corpo e dando uma folga para o cérebro. São barras, halteres, pesos, anilhas, caneleiras, colchonetes; costas, peitoral, ombro, abdômen, bíceps, tríceps, quadríceps, panturrilha, inferiores, superiores; respiração, postura, encaixe de quadril, joelho flexionado, repetições, séries; supinos, crucifixos, abdominais, abdutores, adutores, flexões, agachamentos; empurra, puxa, levanta, segura e solta.

Já percebo mudanças no arquétipo. Algumas estruturas que antes eram quase imperceptíveis estão cada vez mais visíveis. Tenho adquirido nova percepção corpórea e espacial afinal de contas já estou cinco quilos mais pesado. Tudo é recente, tudo novidade, tudo descoberta mas nada supera a alegria de não mais caber em minhas roupas.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

NA TERRA NEM TÃO SANTA ASSIM

Que toda a guerra é estúpida, isso já é sabido. Pouco ou quase nada se pode acrescentar ou dizer sobre esta, por enquanto, última e mais recente beligerância entre palestinos e israelenses na ainda denominada Faixa de Gaza que, diante da intransigência israelense bem poderia ter outro nome.

O que se ouve e vê são mães e pais, parentes e amigos chorando a morte de seus filhos, seus queridos, quer combatentes ou inocentes. Todos são vítimas e aí pouco importa se a bandeira a cobrir o inerte corpo sem vida tem uma estrela azul ou três faixas coloridas.

Sobram lágrimas onde faltou a razão. Mas dizem que a guerra, que toda a guerra é assim mesmo, irracional desde a sua concepção; então nesta não há nada de novo é tudo igual, tudo explosivo, sanguinolento, bárbaro, desumano.

Os que marcham sob a égide do lábaro da estrela de seis pontas, para horror e vergonha deles próprios, transformam, a cada dia, a Faixa de Gaza na versão século 21 do Gueto de Varsóvia.

A história tem disso: é cíclica, tem eras, anos... ela se repete.

sábado, 3 de janeiro de 2009

É ÓBVIO, MAS NEM TANTO

Estes dias presenciei uma acalorada discussão entre dois adultos. O bate-boca foi crescendo quanto mais crescia a divergência entre as partes até que em um determinado momento um disse para o outro: “isto está óbvio, qualquer um pode ver.” E foi o ponto final.

Mas o que significa a palavra óbvio? O dicionário assim define como sendo o atributo ou a qualidade do que é evidente, fácil de compreender. Então posso dizer que o óbvio é óbvio e ponto final. Será?

Neste mundo em transição onde o que hoje é líquido e certo, amanhã, talvez; o que é tido como óbvio pode, alguma das vezes, impedir, atrapalhar, coibir e refutar qualquer outra avaliação ou análise ou parecer acerca de uma situação, fato, evento, acontecimento.

O óbvio só tem real significado e importância para a pessoa que o enxerga, muitas das vezes, de forma míope, desprezando qualquer outra visão ou opinião; fincando os pés na certeza de que um atestado de “obviedade”, individual ou coletivo, é ponto final, é elixir que soluciona questões, as vezes controversas, do cotidiano.

Volto a pensar na verborrágica discussão que testemunhei. Obviamente nenhuma das partes conseguiu o esperado consenso que, se esperamos pelo óbvio, seria o fim almejado.

Equilíbrio sem sempre tema ver com pré-conceitos que julgamos ser tão óbvios assim.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

RITO DE PASSAGEM

Hoje é o primeiro dia de um ano novo. O relógio ainda não completou seu primeiro ciclo de 24 horas. Passei, passamos mais um ano. Fomos do velho para o novo, do fim para o começo e como é de praxe, na passagem, cada um tem o seu modo, o seu jeito, o seu estilo de virar a página, de enterrar o ano-velho e comemorar a chegada do ano-novo.

Uns há que preferem o sossego do aconchego do lar para ali reunirem-se com seus familiares e amigos afim de celebrarem a festa da virada. Outros, entretanto, buscam o agito e a euforia das celebrações coletivas e, quer sozinhos ou acompanhados, também atravessam os últimos minutos do velho ano e vivenciam as primeiras horas do novo ano com muita energia, quer própria ou adquirida via ingestão de alguma bebida energética ou etílica.

Uns usam roupas, outros preferem não usá-las. Os que as utilizam dizem que é preciso e necessário que todo o modelo da indumentária escolhido para a hora da virada seja novo, novíssimo, de primeiro uso. Mas se por culpa da crise econômica ou outro motivo qualquer não puder assim ser – tudo de primeira mão – que pelo menos uma peça seja nova, novíssima e aí pouco importa se é a cueca, a calcinha, o sutiã, a bermuda, a camiseta, a calça, o vestido, a saia, o biquíni ou a sunga... tanto faz, mas que seja novo.

As cores, assim dizem alguns, exercem forte, fortíssima influência sobre a ‘energia’ do novo ano e também revelam o desejo, o intento, a intenção, a vontade, a esperança e a expectativa, singular ou plural, individual ou coletiva, armazenada no profundo da alma. Por certo este então é o motivo de termos sempre muito branco, azul, amarelo, vermelho e outros tantas cores, matizes e tons do mosaico multicolorido que se torna o aglomerado de pessoas, não importa o lugar.

Pronto. Todos reunidos. Inicia-se a contagem regressiva. Já é ano novo e entre abraços, beijos, apertos de mão, estourar de champanhe, cidras, espumantes, fogos de artifício, choros, risos e velas; permeia no ar um sentimento de fraternidade, de sincera amizade, de um querer-bem acima de qualquer possível diferença real ou imaginária – que bom seria se este sentir-se bem durasse o ano todo.

Há quem faça uma prece, quem pule ondas, quem acenda uma ou várias velas, quem faça uma oferenda ao seu santo de devoção, quem coma sete sementes de romã, quem guarde uma folha de louro, quem pule de um pé só, quem guarde a tampa da champanhe, quem derrame pipoca sobre o corpo, quem atire moedas para dentro de casa e quem ainda faça isso tudo e outras tantas superstições, crendices e mandingas afim de garantir que do além distante, caso não consiga por meu próprio esforço e vontade, possa vir ajuda afim de reafirmar a vontade quer na primeira pessoa do singular ou na primeira pessoa do plural de que a novo ano que já começou possa ser melhor do que o velho ano que passou.

A hora, a primeira, passou. As horas passam e agora quem foi além do limite nos brindes tenta encontrar o caminho de casa entre passos trôpegos. Talvez esta figura do celebrante etilicamente alterado seja a melhor metáfora para ilustrar nossa vontade de que tudo seja diferente, todo novo ano, ainda que tropecemos em nossas próprias pernas ou nas guias, nos degraus das calçadas da vida.

BEM VINDO 2009!