quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

ENQUANTO EU TIRAVA FÉRIAS

Me permiti uma vírgula, uma pausa, um quase ponto na aprazível rotina de pensar e escrever afim de oxigenar meus neurônios e, sem nenhum constrangimento ou culpa, curti uma preguicinha cerebral.

De volta as letras, palavras, frases e textos atestei que a grafia, a ortografia já não é mais a mesma para uma infinidade de expressões.

Na terra do Tio Sam, do bacon com ovos no café da manhã, alguma coisa está diferente. A Casa Branca anda mais colorida.

A crise econômica mundial, dizem analistas, há de continuar a estender seus tentáculos e solapar mais alguns empregos para desesperança de alguns e esperança, acreditem, de outros como o nosso mandatário-mor que por vezes continua a jurar de pé-junto que a pátria-mãe está em mar-de-rosas... e o povo sentado nos espinhos.

Na Terra Prometida a promessa de uma trégua no tétrico espetáculo bélico, ficou mesmo só na promessa.

Pessoas nasceram, morreram; ganharam, perderam; tudo isso enquanto eu tirava já não sei mais se foram ou não merecidas férias cerebrais.

O mundo gira, eu com ele. Estou nele, faço-o girar.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

ACADEMICAMENTE FALANDO

As pessoas gordinhas ou levemente incomodadas com o próprio IMC – Índice de Massa Corpórea – elevado que me desculpem, mas tenho descoberto que é mais, muito mais difícil, mas nem por isso menos divertido, ganhar do que perder peso.

A dinâmica de ganhar peso não é nada fácil e talvez até mais complexa e árdua do que a que muitos dizem ser um esforço sobrenatural: perder peso.

Em uma sociedade onde milhares lutam para entrar em peças de roupas cada vez menores, eu tenho ido de livre e espontânea vontade no caminho contrário (será que sou anarquista ou revolucionário?) e me esforçado – esforço literal – para usar peças de roupas cada vez maiores.

Não é segredo para ninguém que estou já faz algum tempo, modestos dois meses, em uma prazerosa, divertida, suada e curiosa rotina de malhação; só que desta vez estou malhando o corpo e dando uma folga para o cérebro. São barras, halteres, pesos, anilhas, caneleiras, colchonetes; costas, peitoral, ombro, abdômen, bíceps, tríceps, quadríceps, panturrilha, inferiores, superiores; respiração, postura, encaixe de quadril, joelho flexionado, repetições, séries; supinos, crucifixos, abdominais, abdutores, adutores, flexões, agachamentos; empurra, puxa, levanta, segura e solta.

Já percebo mudanças no arquétipo. Algumas estruturas que antes eram quase imperceptíveis estão cada vez mais visíveis. Tenho adquirido nova percepção corpórea e espacial afinal de contas já estou cinco quilos mais pesado. Tudo é recente, tudo novidade, tudo descoberta mas nada supera a alegria de não mais caber em minhas roupas.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

NA TERRA NEM TÃO SANTA ASSIM

Que toda a guerra é estúpida, isso já é sabido. Pouco ou quase nada se pode acrescentar ou dizer sobre esta, por enquanto, última e mais recente beligerância entre palestinos e israelenses na ainda denominada Faixa de Gaza que, diante da intransigência israelense bem poderia ter outro nome.

O que se ouve e vê são mães e pais, parentes e amigos chorando a morte de seus filhos, seus queridos, quer combatentes ou inocentes. Todos são vítimas e aí pouco importa se a bandeira a cobrir o inerte corpo sem vida tem uma estrela azul ou três faixas coloridas.

Sobram lágrimas onde faltou a razão. Mas dizem que a guerra, que toda a guerra é assim mesmo, irracional desde a sua concepção; então nesta não há nada de novo é tudo igual, tudo explosivo, sanguinolento, bárbaro, desumano.

Os que marcham sob a égide do lábaro da estrela de seis pontas, para horror e vergonha deles próprios, transformam, a cada dia, a Faixa de Gaza na versão século 21 do Gueto de Varsóvia.

A história tem disso: é cíclica, tem eras, anos... ela se repete.

sábado, 3 de janeiro de 2009

É ÓBVIO, MAS NEM TANTO

Estes dias presenciei uma acalorada discussão entre dois adultos. O bate-boca foi crescendo quanto mais crescia a divergência entre as partes até que em um determinado momento um disse para o outro: “isto está óbvio, qualquer um pode ver.” E foi o ponto final.

Mas o que significa a palavra óbvio? O dicionário assim define como sendo o atributo ou a qualidade do que é evidente, fácil de compreender. Então posso dizer que o óbvio é óbvio e ponto final. Será?

Neste mundo em transição onde o que hoje é líquido e certo, amanhã, talvez; o que é tido como óbvio pode, alguma das vezes, impedir, atrapalhar, coibir e refutar qualquer outra avaliação ou análise ou parecer acerca de uma situação, fato, evento, acontecimento.

O óbvio só tem real significado e importância para a pessoa que o enxerga, muitas das vezes, de forma míope, desprezando qualquer outra visão ou opinião; fincando os pés na certeza de que um atestado de “obviedade”, individual ou coletivo, é ponto final, é elixir que soluciona questões, as vezes controversas, do cotidiano.

Volto a pensar na verborrágica discussão que testemunhei. Obviamente nenhuma das partes conseguiu o esperado consenso que, se esperamos pelo óbvio, seria o fim almejado.

Equilíbrio sem sempre tema ver com pré-conceitos que julgamos ser tão óbvios assim.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

RITO DE PASSAGEM

Hoje é o primeiro dia de um ano novo. O relógio ainda não completou seu primeiro ciclo de 24 horas. Passei, passamos mais um ano. Fomos do velho para o novo, do fim para o começo e como é de praxe, na passagem, cada um tem o seu modo, o seu jeito, o seu estilo de virar a página, de enterrar o ano-velho e comemorar a chegada do ano-novo.

Uns há que preferem o sossego do aconchego do lar para ali reunirem-se com seus familiares e amigos afim de celebrarem a festa da virada. Outros, entretanto, buscam o agito e a euforia das celebrações coletivas e, quer sozinhos ou acompanhados, também atravessam os últimos minutos do velho ano e vivenciam as primeiras horas do novo ano com muita energia, quer própria ou adquirida via ingestão de alguma bebida energética ou etílica.

Uns usam roupas, outros preferem não usá-las. Os que as utilizam dizem que é preciso e necessário que todo o modelo da indumentária escolhido para a hora da virada seja novo, novíssimo, de primeiro uso. Mas se por culpa da crise econômica ou outro motivo qualquer não puder assim ser – tudo de primeira mão – que pelo menos uma peça seja nova, novíssima e aí pouco importa se é a cueca, a calcinha, o sutiã, a bermuda, a camiseta, a calça, o vestido, a saia, o biquíni ou a sunga... tanto faz, mas que seja novo.

As cores, assim dizem alguns, exercem forte, fortíssima influência sobre a ‘energia’ do novo ano e também revelam o desejo, o intento, a intenção, a vontade, a esperança e a expectativa, singular ou plural, individual ou coletiva, armazenada no profundo da alma. Por certo este então é o motivo de termos sempre muito branco, azul, amarelo, vermelho e outros tantas cores, matizes e tons do mosaico multicolorido que se torna o aglomerado de pessoas, não importa o lugar.

Pronto. Todos reunidos. Inicia-se a contagem regressiva. Já é ano novo e entre abraços, beijos, apertos de mão, estourar de champanhe, cidras, espumantes, fogos de artifício, choros, risos e velas; permeia no ar um sentimento de fraternidade, de sincera amizade, de um querer-bem acima de qualquer possível diferença real ou imaginária – que bom seria se este sentir-se bem durasse o ano todo.

Há quem faça uma prece, quem pule ondas, quem acenda uma ou várias velas, quem faça uma oferenda ao seu santo de devoção, quem coma sete sementes de romã, quem guarde uma folha de louro, quem pule de um pé só, quem guarde a tampa da champanhe, quem derrame pipoca sobre o corpo, quem atire moedas para dentro de casa e quem ainda faça isso tudo e outras tantas superstições, crendices e mandingas afim de garantir que do além distante, caso não consiga por meu próprio esforço e vontade, possa vir ajuda afim de reafirmar a vontade quer na primeira pessoa do singular ou na primeira pessoa do plural de que a novo ano que já começou possa ser melhor do que o velho ano que passou.

A hora, a primeira, passou. As horas passam e agora quem foi além do limite nos brindes tenta encontrar o caminho de casa entre passos trôpegos. Talvez esta figura do celebrante etilicamente alterado seja a melhor metáfora para ilustrar nossa vontade de que tudo seja diferente, todo novo ano, ainda que tropecemos em nossas próprias pernas ou nas guias, nos degraus das calçadas da vida.

BEM VINDO 2009!