Tenho experimentado as delícias, venturas e desventuras de viver o auge do verão carioca com o que ele tem de melhor: o sol. Não falo de um solzinho brando, ameno que surge plácida e docemente no horizonte, falo do astro-rei que tem feito torrar a paciência de muitos, inclusive a minha.
Acordar com sol “batendo” na janela tem quase o mesmo efeito de uma exposição direta no melhor estilo praiano então, como não tenho ar refrigerado no aposento onde repouso minha singela e modesta massa corpórea para o descanso, durmo de sunga de praia porque se perder a hora de levantar pelo menos já pego uma cor, já consigo um bronzeado matinal.
A ida para o trabalho ou uma mera saída de casa é parte do suplício do munícipe condução, seja ela de que tipo for, com ar-condicionado é milagre e quando passam vale tudo – tapas, socos, pontapés, dedo no olho, etc, etc, etc – para conseguir entrar primeiro e garantir um lugar sentado. Se você não conseguir fazer a viagem sentado dentro do “frescão” – como são carinhosamente chamados os ônibus que tem sistemas de ar-condicionado – conforte-se de pelo menos ser encoxado sob refrigeração.
Mas frescão é milagre e milagre só na igreja então resta o bom e velho, sempre velho, “quentão” mesmo. E vamos que vamos suando em bicas, sendo encoxado aqui, apertado ali, sacolejando feito pipoca no óleo quente. E se alguma coisa está ruim sempre pode piorar, o trânsito da um nó e tudo para e nada anda; no engarrafamento monstro o único que anda é o camelô de um lado para o outro anunciando a plenos pulmões o seu produto: “água, água mineral!”
O trabalho é oásis ou continuação do suplício infernal, tudo depende da quantidade de btu’s ou rpm’s. sair de baixo do ar-condicionado ou da frente do ventilador só se for em caso de extremíssima urgência-urgentíssima, como por exemplo, para atender ao chamado da mãe-natureza. E aí então você pode até levar uma folha de papel, um pedaço de cartolina, um leque, enfim, qualquer coisa que possa proporcionar-lhe algum frescor durante a atividade biológica. Cá entre nós: de mais-a-mais, nestas horas um ventinho circulando é bom para disfarçar o budum, né?
Hora do almoço é sempre surpresa. Onde comer sob um calor de fritar ovos no asfalto? Muitos restaurantes mantêm a tradição e oferecem os pratos mais “absurdos” neste calor: feijoada, leitãozinho a pururuca, peixe frito, buchada de bode, strogonoff. Mas se você achou isso “pesado” demais sempre existe uma opção mais “leve”, mais saudável, mais natural: sopa, e quente!! Tem maluco pra tudo mesmo.
No pouco espaço de tempo que resta pós-almoço e pré-trabalho vespertino, o negócio é procurar um lugar que tenha ar-condicionado e matar o tempo ali. Nesta busca qualquer lugar é válido: shopping, banco, farmácia, loja de doce, repartição pública, magazines, centro cultural, livraria, igreja, etc, etc, etc.
A volta para casa é tão cruel quanto a ida para o trabalho mas agora já não mais importa o aperto, o desconforto, a encoxada, o engarrafamento ou o camelô, o único que parece feliz no fim de um dia tão quente, que continua a anunciar a plenos pulmões o seu produto: “água, água mineral!”
Quero descanso, estou um bagaço.
Vou dormir de sunga porque amanhã, por certo, vai dar praia de novo... na minha cama.