segunda-feira, 9 de agosto de 2010

PIUÍÍÍÍ

A plataforma apinhada de gente já era um indicativo de que esta seria mais uma viagem desconfortavelmente normal.


O trem nem bem começara a aparecer na curva da linha férrea e o empurra-empurra já podia ser percebido por entre a massa humana.

Lentamente a composição de aproxima. Os freios são acionados. O cheiro de borracha queimada só não é mais forte e desconfortável do que o olor individual somado e adicionado na coletividade depois de um dia todo de árduo trabalho nesta cidade que, no inverno – e estamos nele apesar dos 35 graus – e no verão ainda é chamada de Cidade Maravilhosa.

Finalmente a poderosa, enferrujada e sucateada estrutura metálica para. Ouve-se um longo apito e as portas são abertas. Eu nunca vi pessoalmente mas talvez o estouro de uma boiada seja mais ordeiro e humano – por mais estranho que possa parecer – do que a indescritível cena das gentes tentando entrar, trocando a plataforma repleta e cheia por um vagão de trem idem.

Uma vez alojado no exíguo espaço que cabe – e mal cabe – a cada um, como coração de mãe, sempre cabe mais um, mais dois, três... e a cada estação, em função exponencial, o coletivo toma e adquire forma, significado e contato. Incontáveis são os encontros entre os corpos espremidos.

A massa humana agora mais parece carga humana. Logística perfeita no princípio de maximização do uso do espaço físico a fim de proporcionar a melhor relação custo-benefício para a empresa e o pior serviço para os usuários no tocante a qualidade, segurança, conforto, privacidade, educação, dignidade e respeito.

Sardinhas mortas em latas de metal em qualquer prateleira de mercado vão para o além – ou para o prato mesmo – com mais conforto e dignidade do que a digna população que sob a indigna condição é transportada.

O sacolejo da composição faz ajeitar o populacho fazendo vagar qualquer centímetro quadrado onde um corpo prensado certamente encontrará lugar.

Segue.
Sigo.
Seguimos viagem, nas retas e curvas da estrada de ferro;
no abrir e fechar das portas;
no ir e vir;
no parar, sair;
no chegar,
partir...

sábado, 7 de agosto de 2010

PRESENTE

Presente é mais do que embalagem, papel colorido, laço ou fita.

Presente não é qualquer coisa,
Quer a fina loja possa ter
Ou o humilde ambulante oferecer.
Presente está longe de ter marca, etiqueta, valor, cifra ou centavo.

Presente não deve ser esperado.

Presente é o afago de um abraço fraterno
É o aperto de mão.
É livre opinião.
Discordando na concordância
Ter a capacidade de encontrar a semelhança.

Presente é rir do cotidiano
Deixando-o mais leve, menos sisudo.

Presente é amizade
Aquela que é sincera
Autêntica e verdadeira
Por entre um mundo de máscaras.
À amiga Edileuza, em comemoração do seu aniversário.