quinta-feira, 12 de março de 2009

CRÔNICAS DO REINO III - A MOLÉSTIA

Este texto não tem a pretensão de ser um resumo jornalístico. Os nomes de alguns personagens foram alterados a fim de garantir e preservar suas identidades. Qualquer semelhança com fatos reais não terá sido mera coincidência.

Era uma vez – na verdade não aconteceu só uma vez, aconteceram várias e várias vezes e ainda hoje acontece também, mas como tenho que começar suave então fica como se fosse apenas uma vez – em um reino nem tão distante assim, onde o rei pouco mandava e quem deitava e rolava, quer dizer, ditava a ordem, ou melhor, a organização da desordem, eram os amigos do rei; havia uma festa, e das grandes.

Esta festa envolvia todo o reino e até de certa forma fazia com que os nobres, os quase-nobres, os plebeus, os pobres, os miseráveis e os outros se misturassem e celebrassem nem eles mesmos sabiam o quê, mas havia celebração em todo o reino e o rei gostava.

Nesta época, porém, uma grave moléstia abateu-se sobre algumas regiões do reino, infectando um número considerável de pessoas, a maioria delas da plebe para baixo na íngreme escada-escala social. Estes pobres cidadãos, literalmente falando, buscaram então auxílio na propagada maravilhosa, eficiente e moderna rede oficial de atendimento à saúde mantida, ou melhor, sucateada e desassistida pelo reino.

Os já abatidos e enfermos súditos tiveram ainda, não obstante o decrépito estado de saúde em função da moléstia inicial, combater e encontrar forças para sobreviver a uma segunda moléstia que foi a falta de profissionais habilitados e aptos ao atendimento, ao socorro médico em época de festança nacional, em época de feriado, em época greve, enfim, em qualquer época do ano, em qualquer época de uma vida inteira.

Moral da história: No reino nem tão distante assim, a principal e mais mortal moléstia é a do descaso e omissão.

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