domingo, 21 de fevereiro de 2010

O POETA DOS VERSOS PERDIDOS

Ele havia demorado dias para escrever seus versinhos de amor. Investira tempo pensando as melhores palavras e após folhas e mais folhas de papel amassadas ao chão havia finalmente terminado sua obra. Não era nenhuma declaração pungente, era apenas o dizer simples do sentimento mais ternos que ele já houvera experimentado: a paixão.

E naquele mesmo dia, a noite, ele haveria de encontrar-se com sua inspiração. Engalanou-se todo; o perfume caro somente para ocasiões especiais foi usado sem modéstia. Estava impecavelmente trajado. Sorriso no rosto, olhos brilhando... tudo tinha um motivo: sua inspiração voltara de viagem.

Antes da hora marcada, apressadamente saiu de casa e se certificou de que seus versos estavam devidamente escritos no cartão que houvera adquirido. Chegou ao local do encontro com trinta minutos de antecedência e, tanto quanto pudera, pacientemente aguardou até que seus olhos pudessem ver a razão de seu afeto.

Pronto ali estava, bem na sua frente a amável figura por quem seu coração, de uns dias para cá, andava batendo acelerado. O mundo parecia ter parado. Ficaram assim, como que congelados no tempo a se olharem, não era preciso dizer mais nada; mas ele queria dizer, dizer seus versos de poeta, os versos que pensara e escrevera na tarde daquele dia.

Ao buscar o cartão aonde escrevera seus versos, não o encontrou consigo. O coração acelerou-se, suas mãos ficaram geladas, seu rosto agora exibe um ar de preocupação e lentamente fixam o chão. Os versos e o cartão ficaram no banco do táxi que o levara ao aeroporto.

Aturdido e não conseguindo dizer palavra, o poeta retirou-se cabisbaixo. Perdera os versos, extinguiu-se a paixão, acabara o amor e retirou-se a Inspiração.

Tempos depois, de desgosto e desilusão, o poeta morreu, tão esquecido quanto os versos perdidos que para ninguém leu.

Um comentário:

Fernanda disse...

Credo,que história triste.
Tadinho do poeta!:(