sábado, 11 de outubro de 2008

1h30

Este é o tempo que tenho para almoçar. O que em uma grande cidade às vezes é considerado insuficiente, aqui é mais do que suficiente e ainda sobram vários minutos para, entre outras coisas, escrever.

Eu agora escrevo e enquanto escrevo vou, entre uma vírgula e outra, observando o que acontece.

Normalmente, após o almoço propriamente dito, sento em um dos bancos da praça central, que aqui não é a Praça da Matriz, para plácida e calmamente deixar o tempo fluir aproveitando-o da melhor forma possível.

A rodoviária agora está movimentada. Ônibus das cidades próximas chegam e saem, levando e trazendo quem mora aqui mas trabalha fora, quem trabalha aqui mas mora fora e quem vem apenas passear por aqui. Se a expressão “horário-católico” ainda significar exatidão, precisão, pontualidade, então, nesta cidade onde a maioria da população não professa a fé romana, os ônibus o são, pelo menos no que diz respeito aos horários.

A banca de revistas sempre atrai algum grupo de estudantes adolescentes de um dos colégios confessionais instalado ao lado da Igreja Matriz. Por ser típico da idade, estes estudantes são sempre meio barulhentos e passam pela banca para comprar alguma figurinha nova ou um sorvete; aproveitam e fazem graça com a foto de uma qualquer pelada e indiscreta que está impressa e exposta em um canto nem tão discreto da Banca do Caco.

Nas ruas do entorno o movimento de carros, motos, bicicletas e pessoas se intensifica, salvaguardadas as devidas proporções para esta grande pequena-cidade. Por aqui não há semáforos nos cruzamentos então sobra respeito e cordialidade no trânsito; certamente este é um sinal de desenvolvimento e do melhor tipo: desenvolvimento humano.

No único restaurante aberto para almoço em um dos cantos da praça, calmamente as pessoas entram e saem visualmente satisfeitas; não por causa do preço, pois este eu mesmo já experimentei e é levemente “salgado”. Vai ver é algum tempero local, algum ingrediente secreto que se incorporou ao molho e acaba por contagiar as pessoas satisfeitas em muitos aspectos desta vida com mais qualidade dela mesma.

No lado oposto ao restaurante, no canto da praça, tem início o movimento para a abertura do “cassino”. Um espaço democrático onde respeitáveis senhores, mas também o passante com tempo de fazer uma pausa – e tempo aqui é o que se têm – pode divertir-se em um animado jogo de cartas quer participando ativamente, jogando, quer assistindo e torcendo e rindo. SEIS! NOOOOVE! TRUUUUUCO! Não vale nada a dinheiro. Vale o prazer de encontrar os amigos e rir junto e, é claro, gritar TRUUUUUUCO e bater primeiro.

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