quinta-feira, 10 de abril de 2008

CRÔNICAS DA CIDADE - NO BUSÃO I

Viver em cidades nem tão grandes, nem tão pequenas pode significar passar por experiências quase místicas no que diz respeito ao direito universal e constitucional de ir e vir com conforto, segurança, rapidez e tendo, se possível, sua individualidade preservada.

Eu, mortal e pobre, ou melhor dizendo pobre e mortal, usuário da solução que o poder público oferece no que diz respeito a transporte, a saber, ônibus, para os mais íntimo e chegados - e aqui dentro dos ônibus somos todos chegados e beeeem chegados - busão; tenho desfrutado de inusitadas e não menos pândegas experiências.

No intuito de promover a criação e a manutenção de vínculos bem estreitos e próximos entre os usuários deste sistema, a municipalidade tem se empenhado com esmero e afinco únicos e os resultados são prodigiosos. Nos horários de pico - quando o número de passageiros cresce - mas também fora deste, é cena comum ver o munícipe atolado, entalado, atochado, socado, espremido, apertado (ufa! deu falta de ar agora!) dentro ou nas janelas e portas dos coletivos.

Se você conseguir entrar já é façanha digna de nota no seu diário: "Meu querido diário, hoje consegui entrar no ônibus...". Só que ônibus é vitrine e ai você vai desfilando suas costas e a protuberância calipígea, ou não, por toda a cidade já que você está devidamente acomodado junto com a placa indicativa, posta no vidro dianteiro, aonde se pode agora não somente ler a indicação do roteiro mas também ver a sua... digamos, singela e modesta "popancinha".

Sempre há uma "tia" forte, gordinha, redonda e levemente roliça para atravancar o processo de passar a catraca ou roleta; sem contar os "cabeças-de-vento" que só resolvem ver o valor da passagem seja em dinheiro, passe de papel ou cartão magnético na hora em que conseguem chegar na roleta.

Graças aos céus consegui passar e neste ponto já levei 2 cotoveladas, 3 pisadas no pé sendo somente 2 com pedidos de desculpas, 1 beliscão, 2 fungadas no cangote, 5 encoxadas, 1 espirrada, tem uma senhora na minha frente segurando a bolsa e olhando pra mim com cara feia como se eu fosse subtraír-lhe os pertences tamanha é a intensidade de nosso contato físico, tem também um cara me olhando de um jeito estranho que, só não meto-lhe a mão nas fuças pois se tirar minha mão de onde estou, perco meu ponto de apoio.

Segue viagem. O sacolejar do ônibus ajuda a ajuntar a massa humana em seu interior; é um tal de curva pra direita, depois pra esquerda e acelera e freia ... é só gente entrando e ninguém saindo... será que ninguém vai descer não??

Finalmente é tempo de descer, estou estratégicamente instalado perto da porta de saída; o ônibus pára, a porta se abre e eu 'ploft' sou quase cuspido, parido para fora do coletivo. Faço então rapidamente uma checagem para saber se por algum acaso ou por descuido não deixei nada lá dentro: celular, carteira, crachá, agenda, óculos... tudo no seu devido lugar.

Olho então para mim... estou parecendo uma bolinha de papel. Parece que dei folga para a passadeira ou então tive uma briga medonha com o ferro de passar. Menos mal. Antes o ferro do que a galera do busão e fico por aqui... amanhã, é tudo de novo.

Nenhum comentário: