segunda-feira, 6 de abril de 2009

INCLUSÃO

Em visita a uma feira voltada para o segmento dito antes deficiente, agora portador de necessidades especiais, constatei e atestei para meu espanto, felicidade e satisfatória surpresa que neste mundo plural, diverso e diferente, inclusão tem mais a ver comigo do que com quem eu tenha rotulado e classificado como “especial”, senão, pensemos sobre o assunto...

Hoje é socialmente responsável e bonito falar e dizer e propagar e anunciar a tal da inclusão; mas o que é inclusão? Para quem é a inclusão? Para quê incluir?

Eis a minha definição pessoal que escrevi depois de ler muitos artigos e tratados e matérias sobre o tema da inclusão. Chego a conclusão que inclusão é o esforço que a sociedade através de suas instituições representativas - como por exemplo: empresas, sindicatos, associações, escolas, dentre outras – faz no sentido de disponibilizar e tornar acessível à toda pessoa que de forma natural ou adquirida tenha uma necessidade especial, incapacitante ou não, definitiva ou temporária, o usufruto pleno de sua cidadania, aqui incluído seus direitos e deveres.

Tendo como base a definição acima e em busca de conhecer melhor este universo aventurei-me pela 8ª Reatech (Feira Internacional de Tecnologias em Reabilitação, Inclusão e Acessibilidade) e eis minha percepção de tudo o que vi do dito mundo das pessoas deficientes ou pessoas portadoras de necessidades especiais ou pessoas especiais.

A maravilha da diversidade já podia ser vista na entrada. Centenas – sem nenhum exagero ou hipérbole – centenas de pessoas confortavelmente instaladas em cadeiras de rodas eram só sorrisos e poses para registro fotográfico diante do painel com a logomarca da feira. Um cego com seu cão-guia ditava seus dados pessoais para uma jovem senhora afim de efetuar seu cadastro e receber seu crachá de acesso. Enquanto isso, do lado desta senhora, um outro grupo de pessoas animadamente se confraternizava ao “som” de suas mãos e expressão corporal. Senti-me inteiramente diferente, deficiente, pois não tenho habilidade para usar a cadeira de rodas; tenho dificuldade para confiar nas pessoas, que dirá confiar em um cão para me guiar e a forma usual de minha expressão é oral e limitada, desprovida da beleza plástica da expressão do corpo e mãos.

Fiz meu cadastro sentindo-me como um estranho e entrei no espaço da feira.

Ajustei meu localizador interno – o tal do GPS – e parti para uma aventura e tanto. O primeiro corredor que visitei foi o do artesanato e uma infinidade de formas e expressões artísticas estavam bem diante de meus olhos. Minha atenção foi desperta para o trabalho fantástico de um jovem que pinta quadros, belas paisagens e imagens, usando a boca e enquanto meus olhos pareciam hipnotizados com a destreza deste artista, meus ouvidos captaram o som de uma música... alguém canta e canta muito bem. No final do corredor, sobre um palco uma jovem cega – sei que era cega porque ela mesma, ao apresentar-se no intervalo entre uma canção e outra, disse ser – enchia o espaço com sua interpretação viva e brilhante de grandes sucessos de nossa MPB; enquanto sua voz ecoava como num colorido, toda a qualidade vocal e musical poderia ser também vista graças às mãos e expressão de uma intérprete da Língua Brasileira de Sinais. A música podia ser ouvida e também vista. Eu vi a música. Investi uns bons momentos para acompanhar este belo dueto de uma só voz.

Prosseguindo entre os corredores da feira tomei conhecimento de uma infinidade de serviços e produtos pensados especificamente afim de atender desde as mais simples até as mais complexas atividades do dia-a-dia de toda a pessoa, especial é claro. Contudo ainda que eu tenha ficado boquiaberto com as soluções da mais rudimentar até a mais tecnológica, o que deixou em mim uma marca, um sinal profundo, foi ver pessoas felizes. Ah sim, estavam em cadeiras de rodas, andavam com o auxílio de muletas, usavam bengalas para ver, eram guiados por cães, conversavam com as mãos – estas eram as pessoas mais felizes que vi na feira.

Por pouco mais de 2 horas estive submerso em um mundo onde o diferente, deficiente e portador de necessidade especial fui eu. Desprovido, talvez, da coragem e felicidade em viver que vi estampado em cada rosto, se como eles tivesse eu que enfrentar a ausência de visão ou dificuldade de expressão ou locomoção.

Mas o que é mesmo inclusão? Para quem ela se destina e com que finalidade?

Tenho que reformular meu conceito e entender que inclusão não é para os outros, é em primeiro lugar para mim mesmo.

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