domingo, 19 de abril de 2009

MAS LIVRAI-NOS DO MAL II - ACEITAÇÃO, FUGA E ACEITAÇÃO

Certa vez quando eu fiquei bem ruim de saúde por conta de uma infecção por três vírus que resolveram fazer acampamento dentro do meu fígado e todos os três ao mesmo tempo, uma das enfermeiras que me atendeu, estando eu internado, vendo meu estado debilitado me disse uma coisa que nunca esquecerei, assim ela sabiamente falou: “Não sei o que você tem, mas você só vai morrer disso, se você quiser.” Rapidinho me recuperei.

O primeiro passo para a recuperação é aceitar o diagnóstico e nem sempre aceitar o diagnóstico de depressão é tão fácil quanto o de uma gripe, por exemplo.

Ela não aceitou e buscou subterfúgios para cada um dos sintomas que, dada a baixíssima taxa hormonal e o elevado grau da agora instalada depressão, eram cada vez mais fortes, presentes, recorrentes.

E lá vamos nós, ainda com pouca informação sobre a doença, em busca dos médicos para os sintomas mais fortes. Enquanto um seguia pelo caminho dos médicos, outro foi à internet pesquisar sobre o problema central e pesquisa daqui, conversa com colegas que já passaram por situação semelhante ou que tratam de pessoas deprimidas, fica cada vez mais evidente que o que está sendo tratado são os sintomas acessórios e não o problema central. Mas ela quer assim, primeiro cuidar dos acessórios pra depois ver o principal.

Interna-se em uma clínica de tratamento natural, movida de esperanças e expectativas de que sairia de lá curada, boa, nova em folha, entretanto ao fim de meio-mês de internação não apresentou melhora significativa para os sintomas acessórios. Mas nem tudo estava perdido e mais uma vez ela ouve que o problema principal precisa ser tratado em primeiro lugar. Nega-se, contudo, a acreditar que esteja com depressão.

De volta ao lar, tudo a enjoa, já não se alimenta corretamente e nem mesmo água seu organismo passa aceitar; o que a deixa ainda mais debilitada e resistente a tratar do problema principal. Um exame previamente agendado para tratar de um sintoma acessório a leva ao hospital e como que por milagre ao encontro de uma médica, daquelas nos moldes da antiga escola de medicina, que vendo o estado dela e já acostumada a lidar com quadros assim, pede a sua internação imediata para alguns exames.

Os exames não apontam nenhum descompasso ou alteração a não ser a confirmação do diagnóstico principal dado pela ginecologista quase três semanas atrás. A médica então tem duas conversas sérias, em momentos diferentes, com a paciente. É preciso aceitar, é preciso tratar o principal, deixar de fugir, de esquivar-se, de esconder-se. A paciente rebate expondo seus argumentos em defesa dos sintomas acessórios, negando-se, contudo a aceitar seu quadro depressivo e pelo desenrolar dos fatos, anoréxico e ictérico; a médica não se intimida e fala mais diretamente. Parece haver um aquietar-se dentro da paciente. Ela só ouve. Se concorda? Tomara!

Alta hospitalar assinada. Esqueça os remédios fitoterápicos, homeopáticos, os que foram receitados para tratar os sintomas acessórios; fica apenas um antidepressivo e a indicação urgente para uma consulta e não com psicólogo e sim com psiquiatra. Consulta agendada. De volta para casa. Ainda descrente do diagnóstico principal, mas pelo menos consciente de que é preciso tratar, e com urgência, dos problemas da alma para que os sintomas acessórios desapareçam.

Cada dia tem sido, para quem participa deste ambiente, uma experiência de paciência, amor, carinho, de ouvir, de pouco falar, de sabedoria no dizer e mais importante do que tudo isso: de confiar, no tratamento e acima de tudo, em Deus.

Eu confio!

Nenhum comentário: