terça-feira, 28 de abril de 2009

POR SUSAN BOYLE

Já escrevi anteriormente sobre a arte de cantar – (vide texto Com o que você canta? de 04/07/2008) - e em minhas considerações ponderei que nem sempre quem canta consegue tocar quem ouve. Disse ainda que a provável causa desta ineficiência estaria ligada à falta de sentimento por parte de quem canta.

Pois bem, nestas últimas semanas inúmeras foram as divulgações sobre uma jovem senhora que, desprovida de alguns atributos e provida de outros, encantou, literalmente, milhares e milhões de expectadores e ouvintes por todo o mundo. Susan Boyle canta e mais do que cantar, encanta quando canta.

Mas, se ela canta bem, qual então seria o motivo do espanto mundial no tocante ao fato de como pode ela encantar tanta gente em tão pouco espaço de tempo?

Tenho algumas teorias-respostas para esta estupefação mundial que tomou conta do mundo real e virtual, eis meus pontos de vista

Ela canta com a voz. Em um meio e mundo – artístico – onde cada vez mais são valorizados os atributos físicos, pipocam e abundam na tela da TV ou do computador um verdadeiro festival de corpos, peitos, bundas e silicones, principalmente entre as mulheres e ver uma mulher trajada de forma não-vulgar é de espantar mesmo. Susan não precisa mostrar o corpo para provar que tem talento. Sua arte, sua graça, seu encanto está na rica, suave, fina e tranqüila voz trabalhada com afinco e determinação. Os requebros de quadris são para quem não tem talento, que dirá talento vocal!

Ela canta o que sente. A escolha do que cantar, no caso de Susan, não poderia ter sido mais feliz! Ao cantar a canção “I dreamed a dream”, do musical Os Miseráveis, ela cantou sobre sonhos e realizações e desilusões de uma gente excluída, ela cantou a própria história. Cada frase, cada palavra, cada letra, cada nota tinha o vívido lampejo de uma vida inteira. Por ela, ela cantou.

Ela canta uma verdade. Somente Susan poderia ter dado o peso e a sublime interpretação para esta canção pois por ter vivido e por viver os versos da canção, estes eram para ela reais, verdadeiros. Ela cantou o que chamam de “a sua verdade”, não a história de um amor ou desamor de um outro alguém; ela cantou sobre ela, dela e primeiramente para ela mesma; abriu a sua boca em um pungente grito, de sua alma brotou o clamor de alguém que está cansada de ser julgada e pré julgada por vis estereótipos. Para ela, ela cantou.

Ela canta por mais de um. Naquele momento, Susan, depois de ser desacreditada pela platéia e pelos jurados, tornou-se porta-voz de uma multidão de pessoas que são marginalizados pelos mais diversos motivos, oprimidos e muitas das vezes ridicularizados, que carregam o opróbrio do pré-conceito individual ou coletivo. Por estes, ela cantou.

Susan hoje é famosa, requisitada para dar entrevistas para todo o mundo; o mesmo mundo que muitas das vezes rio dela por julgá-la incapaz de, por exemplo: cantar.

Cada um sabe o que aprender com a história da aparição e interpretação de Susan Boyle. Tire você mesmo suas conclusões e enquanto você pensa sobre os porquês e os para quê, que tal ouvir alguém que canta, encanta e que consegue tocar a alma.

http://www.youtube.com/watch?v=j15caPf1FRk

2 comentários:

Suzana disse...

"Somente Susan poderia ter dado o peso e a sublime interpretação para esta canção pois por ter vivido e por viver os versos da canção"
Concordo com vc Estefenson. Mesmo q fosse uma pop star cantando, não encantaria tanto.
Mto legal seu blog.
Passo sempre por aki.
Fica com Deus.
Bjs

Adalberto Sabino disse...

A igualdade dos seres humanos está muito, mas muito longe de ser alcançada, porém Suzan dá um exemplo de coragem, audácia e colhe os frutos de uma sociedade hipócrita e cheia de preconceitos. Parabéns Estefenson por fazer esta homenagem, que não é somente de Suzan, mas para todos os excluídos e sem oportunidades.
Adalberto Sabino - Assis/SP